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Indignada e injustiçada,
mas com disposição de luta. Assim a presidenta Dilma Rousseff descreveu como se
sente, no dia seguinte à Câmara aprovar a admissibilidade do processo de
impeachment. No primeiro pronunciamento desde a decisão, ela reiterou que não
há crime de responsabilidade e fez duras críticas ao vice-presidente Michel
Temer (PMDB), a quem acusa de “conspirar” contra seu mandato. De acordo com a
presidenta, “a sociedade humana não gosta de traidores”.
“É estarrecedor que um vice-presidente, no
exercício do mandato, conspire contra a presidente abertamente. Em nenhuma
democracia do mundo, uma pessoa que fizesse isso seria respeitada”, condenou.
Dilma reforçou que um eventual governo
originado deste processo de impeachment, sem base jurídica, não terá
legitimidade. “Nenhum governo será legitimo, será um governo em que o povo
possa se reconhecer nele, sem ser por obra do voto secreto e direto, numa
eleição convocada para este fim. Não se pode chamar de impeachment uma
tentativa de eleição indireta”, disse.
Injustiças - A presidenta afirmou que assistiu a todas as intervenções dos
parlamentares durante a votação e não viu “discussão sobre o crime de
responsabilidade, que é a única maneira de se julgar um presidente no Brasil”.
Dilma disse que se sentia injustiçada por
vários motivos. "Considero que esse processo não tem base de
sustentação", discursou, acrescentando que iria "insistir numa tecla
só", ao defender a legalidade da edição de decretos de suplementação
orçamentária, porque trata-se da “tecla da democracia”.
"Os atos pelos quais eles me acusam
foram praticados por outros presidentes antes de mim e não se caracterizaram
como ilegais ou criminosos", disse, ressaltando que as decisões foram
tomadas com base em relatórios técnicos e que não beneficiaram ela diretamente.
"A mim se reserva um tratamento que não se reservou a ninguém".
Segundo ela, "essa situação só pode
provocar uma imensa sensação de injustiça”, porque é uma “violência contra o
Brasil, a verdade e o Estado democrático de direito".
A presidente lamentou ainda os sucessivos
ataques sofridos ao longo dos últimos meses, que têm atrapalhado seu governo.
“Também me sinto injustiçada por outro motivo. Por não permitirem que eu
tivesse, nos últimos 15 meses, governado em um clima de estabilidade política.
Contra mim, praticaram, sistematicamente, a tática do quanto pior, melhor. É
assim: pior para o governo, melhor para a oposição.”
Cunha - Sem citar o nome do presidente da Câmara, Dilma voltou a contrapor sua
biografia à de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), réu no Supremo Tribunal Federal e
condutor do impeachment na Câmara. Ela reiterou que o peemedebista aceitou o
pedido de impeachment por “vingança”, pelo fato de o seu partido e o governo
terem negado apoio e ele, no processo no Conselho de Ética.
“Não há contra mim acusação de corrupção.
Não fui acusada de ter contas no Exterior. Por isso, eu me sinto injustiçada.
Aqueles que praticaram atos ilícitos e têm contas no Exterior, presidem a
sessão sobre uma questão tão grave como o impedimento de um presidente da
República”, disparou.
Força, esperança e coragem - Dilma voltou a defender que o processo
aprovado contra ela na Câmara é um golpe contra a democracia e que, assim como
fez na juventude, quando lutou contra a ditadura e chegou a ser torturada, não
irá desistir. “Enfrentei a ditadura por convicção e hoje faço o mesmo. Um golpe
de estado que não é igual ao da minha juventude, mas infelizmente é o golpe da
minha maturidade, em que se usa de uma aparência de processo legal”, disse.
A presidenta afirmou que “vivemos tempos
difíceis” e que o “mundo e a história nos observam”. Mas destacou: “Tenho
ânimo, força e coragem suficiente para enfrentar essa injustiça”, declarou.
Emocionada, disse que todo esse
processo lhe entristece, mas não lhe abate. “De certa forma, eu estou tendo
meus sonhos torturados, meu direito torturado. Mas não vão matar em mim a
esperança. Sei que a democracia é o lado certo”, revelou.
Sobre essa nova fase, que se inicia com a
chegada do processo ao Senado, Dilma deixou claro que vai se defender e que a
luta só começou. “Nós estamos no início da luta. Essa luta será muito longa e
demorada. Não é por mim e pelos 54 milhões de voto que recebi. É uma luta de
todos os brasileiros e uma luta pela democracia”, afirmou.
A petista disse que não avalia a
possibilidade de apresentar ao Congresso Nacional um projeto para antecipar a
eleição presidencial. E disse que não abrirá mão dos instrumentos
existentes para defender a democracia. "Não é judicializar processos, mas
exercer em todas as dimensões o direito de defesa".
Ministros - Questionada por jornalistas, Dilma disse esperar que o ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva possa assumir o posto de ministro da Casa Civil ainda
nesta semana, quando o Supremo pode se pronunciar a respeito. “Lula, de fato,
tem me ajudado muito. Esperamos que, nesta semana, seja autorizada a vinda dele
para a Casa Civil. Certamente ele virá.”
A presidenta declarou que não deve modificar
ministérios ou movimentar cargos. A não ser as pastas ocupadas por aqueles que
votaram a favor do governo, caso de Mauro Lopes (PMDB-MG), que era Secretário
da Aviação Civil. "Estes não podem permanecer no governo por uma simples
questão de consequência de seus próprios atos", diz. "Estranho seria
o contrário".
Dilma disse ainda que, passada mais esta
etapa do embate político, será necessário um "rearranjo no governo" e
a construção de "um novo caminho". "Eu enfrentei um terceiro
turno e agora vou para o quarto turno. Depois do quarto turno, teremos de ter
um novo rearranjo do governo", disse, defendendo que o Congresso não fique
"parado" e encaminhe as propostas enviadas pelo Executivo e que
tramitam na Casa.
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