Luciano
Siqueira, no Blog da Folha
Navego por portais noticiosos e sites dos mais importantes jornais da Europa, dos Estados Unidos e da América do Sul.
Navego por portais noticiosos e sites dos mais importantes jornais da Europa, dos Estados Unidos e da América do Sul.
Faço o
mesmo com a grande imprensa nativa.
Meu
foco é o noticiário e colunas de opinião acerca da crise brasileira.
Um
tremendo contraste: aqui a mídia hegemônica trata o andamento do pedido de
impeachment da presidenta Dilma como algo normal, de acordo com a ordem constitucional
— omitindo sistematicamente que a presidenta não cometeu crime e sequer é
indiciada; fora do país, analistas de diversas correntes políticas, chefes de
Estado e dirigentes de organismos internacionais apontam a ruptura da ordem
jurídica, nesse processo, em flagrante golpe jurídico-parlamentar-midiático.
O
principal jornal da França, Le Monde, chegou inclusive a pedir desculpas aos
seus leitores por inicialmente ter de apoiado, na análise do que se passa no
Brasil, na mídia brasileira — reconhecidamente como nitidamente parcial e
tendenciosa.
Uma das
redes de TV norte-americana – a CNN - chegou a divulgar reportagem ("Golpe
é a chance de quem não consegue vencer a eleição") na qual afirma que,
desde a queda do regime militar, os brasileiros se imaginavam livres de golpes.
Agora amargam a tentativa desavergonhada de ruptura institucional.
Essas
manifestações que se repetem e se avolumam no exterior, entretanto, não parecem
encontrar acolhida no Congresso brasileiro. A nação agora se dá conta do
fracasso das eleições parlamentares de 2014, do ponto de vista democrático e
civilizacional.
Naquele
pleito, em razão da miríade de distorções contida na legislação eleitoral e
partidária, que permitem o uso e o abuso do poder econômico, o parlamento
brasileiro foi verdadeiramente tomado de assalto por uma maioria que ostenta
baixíssimo nível de consciência cívica e completa ausência compromisso
democrático.
Uma
maioria que representa o mais vil corporativismo e interesses pessoais e de
pequenos grupos tão inconfessáveis quanto a cada dia mais evidentes.
Ocorre
que o espetáculo deprimente das declarações de voto pró impeachment verificado
na Câmara dos Deputados no domingo 17, a exemplo da anterior discricionária
tentativa do juiz Moro de aprisionar o ex-presidente Lula e posteriormente,
pelo mesmo juiz, a exibição em público de grampo telefônico ilegal, arbitrário
e criminoso contribuem para expansão crescente da tomada de consciência democrática
no país.
Na mesma
linha, a nação assiste diariamente ao que se tem chamado "montagem de um
possível governo Temer", também com base num misto de fisiologismo
rasteiro e de compromisso aberto com o grande capital rentista.
As
forças de oposição, inclusive parte dos seus integrantes que outrora pugnaram
pela democracia, certamente não medem a dimensão do que constroem agora: uma
profunda divisão da sociedade brasileira, que marca o momento atual e
certamente dará o tom do conflito social e político daqui por diante, qualquer
que seja o resultado da votação no Senado.
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