Luciano Siqueira, no portal Vermelho e no Blog do Renato
Agora no Senado, o processo de
impeachment segue como vértice da tendência crescente à radicalização do
conflito político. Em todas as suas dimensões – da frente parlamentar aos
movimentos sociais.
Senadores, inclusive alguns de
currículo até ontem respeitáveis, sem o menor pejo se antecipam favoráveis à admissibilidade
do pedido de impeachment “por razões eminentemente políticas”.
Jogam à lama suas convicções
democráticas e seu compromisso constitucional.
Enquanto isso, a frente
reacionária liderada por Temer-Cunha e lastreada no aparato jurídico-policial e
midiático, dá passos rápidos na montagem do que ironicamente chamam de “governo
de salvação nacional” – uma agenda flagrantemente comprometida com o capital
rentista e com interesses corporativos contidos nas bancadas parlamentares mais
retrógradas, que votaram pelo golpe na Câmara dos Deputados.
Prenunciam-se – no caso de um
eventual governo Temer -, um arrocho fiscal muito mais severo do que o
pretendido pelo governo Dilma, combinado com a manutenção da política de juros
elevados e ampliação da carga tributária. A economia seria “normalizada”, porém
pela via da regressão de direitos, do agravamento das condições de existência
da maioria, da maior concentração da renda, da riqueza e da capacidade de
investimento e do aprofundamento da recessão.
No mundo real, digamos assim,
segue se ampliando a consciência de que o Brasil está diante de um golpe
parlamentar-jurídico-midiático, com enorme repercussão crítica internacional. E
uma tendência crescente à resistência democrática, a um só tempo popular
(assentada no mundo do trabalho e na juventude) e ampla (envolvendo setores os
mais diversos da intelectualidade, dos meios jurídicos, da academia e do mundo
da cultura).
Concomitantemente, sondagens
eleitorais revelam a força de Lula (e de tudo o que ele representa no
imaginário popular) e a fragilidade eleitoral do consórcio PMDB-PSDB-DEM.
O que leva a crer que o embate
de agora, qualquer que seja o resultado da votação do impeachment pelo Senado
e, sobretudo, se favorável ao golpe, se prolongará por tempo imprevisto, tendo
no meio do caminho as eleições municipais e o pleito presidencial de 2018.
Nesse cenário, às forças mais
consentes – entre as quais, destacadamente, o PCdoB, mercê do protagonismo
conquistado -, cabe contribuir para o fortalecimento da ampla frente pela
democracia e impulsionar, no âmbito dela, o ímpeto combativo dos movimentos
sociais; e, ao mesmo tempo, não arrefecer esforços na construção de “pontes”
com setores vacilantes, confusos ou equivocados, de onde poderão surgir
dissidências para o campo democrático.
Isto numa correlação de forças
evidentemente desfavorável, apesar da justeza de nossas bandeiras e do caráter
francamente reacionário do golpe.
Há uma imensa parcela da
população - envolta na perplexidade decorrente da crise e potencialmente
disposta a reagir às ameaças às conquistas obtidas nos governos Lula-Dilma -,
alvo de disputa pelos dois polos do conflito, cuja abordagem implica desconstrução
da narrativa midiática golpista e habilidade para despertá-la para a
resistência.
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