02 outubro 2018

Opereta de mau gosto


Agravos à democracia até o dia 7
Luciano Siqueira, no Blog da Folha

Há alguns dias, o jornalista Janio de Freitas escreveu na Folha de S. Paulo que, quase na reta final das eleições, o Judiciário permanecia meio que equidistante da campanha. Silencioso. 

Esse silêncio — escreveu — lhe parecia estranho e talvez perigoso.

Agora, ontem, a seis dias da votação, o mais partidário dos juízes, Sérgio Moro, certamente incomodado com o desenrolar da disputa, polarizada entre o capitão Bolsonaro e Fernando Haddad, levanta o sigilo acerca da delação premiada do ex-ministro Palocci tendo como alvos o ex-presidente Lula e o PT.

Provavelmente, essa pretensa "bomba" não terá influência decisiva sobre o comportamento do eleitorado.

Primeiro, porque - a vida tem demonstrado à exaustão -  denúncias de última hora em pleno auge de uma disputa eleitoral têm efeito muito limitado.

Segundo, a delação do ex-ministro é reconhecidamente mero artifício para tentar reduzir a própria pena a que provavelmente será condenado. Tanto que o “insuspeito” Ministério Público Federal já a havia recusado, precisamente porque suas supostas revelações, sem provas, não serviriam como munição contra Lula.

Como se sabe, a delação a que Moro se refere segue através de questionável acordo com a Polícia Federal.

Outra manifestação inapropriada do Judiciário ocorre mediante arranca rabo entre dois ministros do STF, Ricardo Lewandowski e Luiz Fux, tendo como motivo a pretensão do jornal Folha de S. Paulo de publicar agora uma entrevista com o ex-presidente Lula.

Péssimo que um país da dimensão e da importância geopolítica do Brasil seja submetido a essa opereta de mau gosto, que é o esgarçamento do papel constitucional dos chamados Três Poderes da República.

O pretenso e persistente protagonismo político do Judiciário rompe frontalmente com o conteúdo e o espírito de Constituição de 1988. Um dos elementos lamentavelmente persistentes da crise institucional em que estamos enredados.

As coisas acontecem de tal modo, que a realização das eleições no dia 7 e a conclusão da disputa pela presidência da Republica no segundo turno, levados a bom termo, apesar de tudo, já serão uma vitória da democracia.

Inevitável, entretanto, é a ação deletéria da conjura Sistema Globo, Ibope, Moro, Palocci e Polícia Federal que pretende fechar o cerco ao PT e desgastar o provável favorito no segundo turno, Fernando Haddad.

Assim, no dia 7 estarão em causa a escolha do novo presidente — vale dizer, o rumo que o Brasil deve tomar — e a própria preservação da democracia.

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