Sidão foi
desrespeitado e humilhado ao receber prêmio de 'craque do jogo'
Fato serve também para as pessoas
refletirem sobre o enorme número de enquetes diárias
Tostão, na Folha
de S. Paulo
Como escrevo somente quartas e domingos, não tenho blog, Twitter e
WhatsApp, às vezes falo de algumas coisas que aconteceram dias atrás e que já
estão saturadas, consumidas e descartadas, como o caso do goleiro Sidão. A notícia tem pressa. Mas preciso dar
minha opinião.
Logo após a partida entre Santos e Vasco, Sidão foi desrespeitado e
humilhado, ao receber, calado e indignado, o prêmio de "craque do
jogo", promovido pela TV Globo. A repórter Júlia Guimarães, por sinal,
brilhante, entregou o troféu, constrangida, ao vivo, no gramado. Todos,
inclusive Sidão, sabiam que ele tinha jogado muito mal e que a votação dos
internautas tinha sido uma brincadeira, uma zoação, um bullying, com a intenção
de avacalhar a emissora.
A TV Globo reconheceu o erro, pediu desculpas a Sidão e vai mudar o formato da premiação.
Durante a transmissão da partida, o narrador e os dois comentaristas poderiam
ter se manifestado e sugerido a suspensão da entrega.
O fato serve também para as pessoas refletirem sobre o enorme número de enquetes diárias, nos
programas esportivos e nas transmissões das partidas, em todas as emissoras,
algumas sem sentido, com a justificativa de interatividade com o público.
Em outra coluna, escrevi que o Palmeiras é o time brasileiro que mais pressiona quem está com a bola.
Esqueci-me do Santos, que faz isso por mais tempo, durante o jogo, e melhor.
Pituca, mais uma vez, mostrou seu talento. Ele marca, apoia e finaliza bem.
Luxemburgo terá enormes dificuldades para melhorar o Vasco. Ele e outros
técnicos, que tiveram sucesso e, depois, fracassos, têm grandes problemas para
se reerguer. Após uma derrota, são contratados apenas por times fracos, que
quase sempre perdem, criando um ciclo negativo. Ocorre o contrário com outros
treinadores, que, após um sucesso, passam a comandar bons times e crescem na
carreira. Como existem dezenas de fatores envolvidos nos resultados, muitas
vezes um técnico menos preparado tem uma carreira mais brilhante do que outro
superior.
Na vitória do Palmeiras sobre o Atlético-MG, Felipe Melo teve,
novamente, uma grande atuação. Repito, ele é o único volante que joga no Brasil
que marca bem e que tem bom passe, longo ou para frente, para o companheiro
receber a bola entre as linhas do meio-campo e da defesa. A bola não precisa
passar pelo meia-armador. Porém, de vez em quando, tem uma privação de consciência
e passa a distribuir pontapés, o que atrapalha muito sua carreira.
Apesar das derrotas para Palmeiras e São Paulo, o Fortaleza, dirigido
por Rogério Ceni, mostrou um bom
jogo coletivo. Recentemente, votei, junto com várias outras pessoas,
nos dez melhores jogadores que atuaram no Brasileiro, a partir dos pontos
corridos, em 2003, em uma promoção do jornal O Globo. Mais uma enquete. Votei
apressadamente e me esqueci de Rogério Ceni,
que, merecidamente, foi eleito o melhor.
Foram belíssimas as homenagens das torcidas de Fortaleza e São Paulo a
Rogério Ceni. Nunca tinha visto, no Brasil, uma manifestação tão grandiosa.
Ele, pelo ótimo trabalho no Fortaleza e por ter recusado uma proposta do
Atlético, fascinou ainda mais o torcedor cearense.
Rogério Ceni, por ser perfeccionista, tem grande chance de se tornar um
grande técnico. Ele, que foi um goleiro revolucionário, por jogar muito bem com
os pés, o que agora passou a ser uma exigência, quem sabe se torne também um
treinador revolucionário?
[Ilustração: Francisco Rebolo]
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