23 maio 2019

Mais competitivo


Palmeiras é o time mais seguro, regular e eficiente do Campeonato Brasileiro
Além das qualidades técnicas e táticas, joga cada partida como se fosse a última
Tostão, na Folha de S. Paulo
As principais forças de um time são o talento individual e a eficiência na execução do que foi planejado. O tipo de sistema tático, de estratégia, é menos importante, a não ser em momentos pontuais. Assim fez Felipão, ao deixar Dudu livre e mais adiantado, sem precisar voltar para marcar, para aproveitar os enormes espaços deixados pelo Santos, que avançava a marcação e perdia a bola, por causa da pressão do Palmeiras.
Há várias maneiras de jogar bem e de ganhar. Algumas equipes brasileiras têm seguido o modelo dos principais times europeus e atuado com um trio no meio-campo, formado por um volante centralizado e um meio-campista de cada lado, que marcam e atacam, em vez de atuar com dois volantes em linha e um meia de ligação pelo centro.
O Atlético-MG, após a entrada do jovem técnico Rodrigo Santana, tem jogado com um volante mais recuado e com Luan de um lado e Elias de outro. Os dois são rápidos, hábeis e jogam de uma área à outra. O Internacional atua assim desde o ano passado. Alguns falam que são três volantes. Cada equipe, brasileira ou europeia, tem suas particularidades.
Quando um time é compacto, com os jogadores de um setor próximos aos de outro, não há espaço nem necessidade para se ter um meia de ligação centralizado, entre o meio-campo e o ataque. Isso não significa que jogar assim é ultrapassado. Costuma funcionar muito bem, como tem ocorrido com Palmeiras, Fluminense e outras equipes.
O Fluminense, além de trocar muitos passes e de ficar com a bola, aprendeu a marcar. É um avanço do técnico Fernando Diniz. O Palmeiras é o time mais seguro, regular e eficiente do Campeonato Brasileiro. Além das qualidades técnicas e táticas, joga cada partida como se fosse a última, a do título.
Falta a algumas equipes que atuam com dois volantes e um meia de ligação, como o Cruzeiro, um volante que marque e avance como um meia, como Bruno Henrique, Elias, Arão e outros. Evidentemente, nenhum destes é especial. Talento é diferente de estilo.
Nem a seleção brasileira tem um craque meio-campista. Após um grande fascínio por Arthur, existe hoje uma avaliação mais realista sobre ele, de que é excelente, merece ser titular da seleção, mas não é um Xavi nem está no nível dos melhores do mundo nessa posição. 
No Barcelona, Arthur disputa a titularidade com o chileno Vidal, que tem sido o preferido nos últimos jogos, por ser mais combativo e jogar de uma área à outra.
Grêmio e Cruzeiro fazem péssimas campanhas no Brasileiro. Pode-se imaginar e suspeitar de várias razões para a queda do Cruzeiro, como a de que existe algum problema no vestiário. Sempre que um time vai mal, falam isso. Penso que a razão mais provável é que as mesmas deficiências atuais estavam presentes também nas vitórias. Além da falta de um ótimo meio-campista que atue de uma área à outra, o time prefere recuar a pressionar quem está com a bola, e Fred continua lento como antes. Em jogos equilibrados, se ganha e se perde por muito pouco, às vezes, repetidamente. É a fase ruim.
A terminologia das funções e posições em campo deveria ser mais simples, direta e explicativa. Os garotos e garotas que começam a entender de futebol ficam confusos com tantas palavras antigas, ultrapassadas, ou modernas, impossíveis de ser compreendidas. Em Portugal, escanteio é tiro de canto. Ponto final. 
Como dizia Graciliano Ramos, "a palavra não foi feita para enfeitar; a palavra foi feita para dizer".
[Ilustração: Luiz Rocha]
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