17 agosto 2019

O que virá depois


Base objetiva da extrema direita
Luciano Siqueira

A vida material fomenta a consciência social, que se expressa através  de diversas correntes ideológicas e políticas.

A extrema direita reflete um dos polos da desigualdade social em que estamos mergulhados. 

Projetou-se no semivazio decorrente do enfraquecimento da esquerda e segmentos progressistas em meio processo do golpe que afastou Dilma e fortaleceu-se com a eleição do capitão Bolsonaro.

A desigualdade crescente, como atesta o estudo de Marcelo Neri, pesquisador do IPEA.

Segundo ele, o mais longo ciclo de aumento da desigualdade de nossa história.

São 17 trimestres ininterruptos em que a desigualdade se acentua, sempre em curva ascendente.

O desemprego crônico, que hoje aflige 12 milhões de pessoas, é um dos fios condutores do fenômeno.

Acresce a acentuada redução de postos de trabalho na esteira da automação dos processos produtivos e da geração de serviços.

Há que se reconhecer também a confluência de mecanismos diversos que favorecem a concentração da produção, da renda e da riqueza.

As reformas ultra liberais em andamento atingem os assalariados e a chamada “classe média” e mantém intocada a elite econômica, especialmente banqueiros e grandes empresários do agronegócio.

O segmento mais consistente da extrema direita, fiel ao presidente Bolsonaro, alimenta-se do inconformismo das elites (e de setores médios com elas identificados) em relação aos avanços sociais verificados nos dois governos Lula e primeiro governo Dilma.

Mas, em contrapartida, os efeitos da desigualdade atingem a grande maioria da população. E a dura realidade cotidiana alimenta a insatisfação que, como fogo de monturo, semeia a reação popular que se pode vislumbrar num breve tempo futuro.

O atual ciclo de desigualdade fomenta os fatores políticos de uma possível inversão de tendências e a base subjetiva para um novo pacto social a ser alcançado.


Que assim seja.

[Ilustração: Josef Albers]

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