15 agosto 2019

Crônica do cotidiano


O tamanho do prato
Luciano Siqueira

É comum alguém se dizer enfastiado e, no entanto, ao ir à mesa comer muito. Come com os olhos, costuma-se dizer.

Talvez seja por isso mesmo que os restaurantes self service operam com esmero (e esperteza) o tamanho do prato.

Se a bóia é cobrada no quilo, o freguês recebe um prato imenso, ovaloide (não sei a razão), de preferência branco.

Se o preço é fixo, ou seja, você pode botar a quantidade que bem entender, desde que de uma única vez, o prato é de dimensões modestas e (também não sei o motivo) ornamentado com figuras diversas.

O prato grande ovaloide parece estimular a gula – e, portanto, a quantidade, o peso e o preço.

O prato mais reduzido e ornamentado, creio, sugere quantidades mais recatadas.

Ao final, o dono do negócio sai ganhando. O cliente nem tanto – desde que seja suficientemente esperto e controlado.

Algo semelhante acontece em toda parte: objetos, cores, luzes e sorrisos acolhem o cliente de modo a produzir uma sensação de bem estar e, quando é o caso, estimulá-lo ao consumo.

Para isso existe o marketing especializado. E a experiência milenar do homo sapiens.

Lamentável que no Brasil dos nossos dias o ocupante do principal posto no Palácio do Planalto exale diariamente tanto fedor e mau gosto. É o seu estilo particular, diz.

Que haja, apesar de tudo, um marketing de sobrevivência em que se seja duro quando necessário, mas não se perca jamais a leveza e o bom gosto.

E assim caminhe a Humanidade.

[Ilustração: Hilma af Klint]

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