27 julho 2020

Palavra de poeta


Desesper(o)anças
Chico de Assis

Há sempre um canteiro
onde regar a flor
murcha nas mãos
e um leito onde desaguar
o rio corrente dos olhos.

Não desesperes. Tua ternura
dissipou-se nas armações
irreais da tua classe.

Mas te espera
a ternura esculpida no barro
batido dos bairros operários.
Ternura marcial militar
de um filme de John Ford.

Não desesperes.Dispõe teu amor
no chão sem ladrilhos
recolhe o resíduo
do erro cometido.

E não chores mais
o tempo perdido.
O tempo
     (verdadeiro)
que se teve
não se perdeu.

(OUT/70 - três meses depois da minha prisão política, pela ditadura civil-militar implantada no Brasil em 1964)

[Ilustração: Ivald Granato]
A vida pede muitos encontros e muitas realizações https://bit.ly/2XypaLe 

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