Tostão, Folha de S. Paulo
Existe um conceito moderno de que um jogador deve ocupar
posições diferentes e executar mais de uma função em campo. É preciso separar
os que são escalados, desde o início do jogo, em outras posições, dos que, em
determinados momentos da partida, executam ações fora das habituais. Os
treinadores têm grande importância nessas variações de posicionamento e nas
orientações aos atletas.
É
importante ocupar outras posições e fazer funções diferentes, mas penso que,
para um atleta evoluir e brilhar intensamente na carreira, necessita encontrar
seu lugar, sua referência em campo, e o jeito de fazer melhor, com mais prazer.
Isso ocorre em todas as profissões. O momento marcante do filme
sobre a vida de Charles
Chaplin é quando ele, no início de carreira, entra no camarim
da indústria de cinema em que trabalhava e fica alucinado ao ver tantas peças
de roupa. Pega várias delas, experimenta algumas, e surge o Carlitos,
o personagem inesquecível que encantou o mundo.
Cristiano
Ronaldo só se tornou um excepcional artilheiro quando o técnico Ancelotti, no
Real Madrid, o tirou da ponta, onde atuava com enorme eficiência, e o colocou
pelo centro, perto do gol e do centroavante Benzema.
Messi,
no início de carreira, jogava aberto, como um ponta, com funções também
defensivas. Quando passou a atuar em todo o ataque, especialmente da meia
direita para o centro, após um período como centroavante, se tornou o
craque que é.
Quando o técnico holandês Van Gaal dirigiu o Barcelona, tirou
Rivaldo do meio para escalá-lo de ponta esquerda, com a justificativa de que
Rivaldo era o melhor cruzador do mundo. Era pouco para ele. Quando a jogada
começava pela direita, Rivaldo ia para o centro, contra a vontade do técnico,
recebia a bola e definia a partida, geralmente, com a precisa finalização.
Alguns
grandes craques descobrem, desde o início da carreira, seu lugar, como Pelé,
Zico e outros pontas de lança, que jogavam da intermediária para o gol,
formando dupla com o centroavante. Imagine se Pelé surgisse tempos depois,
quando não era mais habitual o ponta de lança. Provavelmente, o técnico das
categorias de base o escalaria de centroavante, de ponta ou como um meia de
ligação, longe do gol. Não seria o Pelé.
Quando
eu atuava no Cruzeiro, resolvi tentar jogar como Di Stéfano,
que, segundo meu pai, era o único jogador que atuava de uma área à outra. Foi
um fracasso. Eu recuava até a intermediária e, quando chegava, o que era raro,
perto do outro gol, estava morto e errava os lances. Desisti de ser Di Stéfano.
Não era para mim. Contentei-me em ser Tostão.
Os grandes talentos, em todas as áreas, vão direto no que é
decisivo. Não fazem firulas nem se enrolam com a bola. São os que, além de
desenvolver a técnica, encontram seu lugar, seu jeito de fazer. Conhecem
profundamente o básico, enxergam muito bem o óbvio, executam com eficiência o
que é essencial e tornam simples o que é complexo.
JOÃO SEM MEDO
Há
30 anos, em 12 de julho de 1990, morreu o humanista João Saldanha,
quando trabalhava na Copa do Mundo daquele ano, na Itália, com sua
independência e coragem.
Saldanha
contribuiu muito para a conquista da Copa do
Mundo de 1970, pois, nas Eliminatórias, quando era o treinador, o
Brasil recuperou a confiança da torcida. Além disso, naquele período, foi feito
o planejamento técnico e logístico para o Mundial no México. A CBF deveria ter
o homenageado nas comemorações dos 50 anos do título de 1970.
Leitura
que esclarece e orienta https://bit.ly/2DDpLUx
Nenhum comentário:
Postar um comentário