29 julho 2020

Futebol, pandemia e tática


Não se pode colocar erros e deficiências dos times na conta do vírus
Um dos maiores defeitos dos brasileiros é o excesso de espaços entre os setores
Tostão, na Folha de S. Paulo


Além do Estadual do Rio, que já terminou, outros estão de volta. É ótimo para quem está em recolhimento social e é colunista de futebol.
Existe um desencontro entre o grave momento da doença no Brasil, a responsabilidade dos governadores e prefeitos em liberar as partidas e a pressa dos dirigentes dos clubes e das federações em fazer a bola rolar.
É óbvio que quatro meses sem futebol prejudica a atuação das equipes e dos jogadores, mas não se pode colocar todos os erros e deficiências na pandemia.
A quarentena deveria também ser um bom motivo para os técnicos refletirem e mudarem várias coisas na maneira de jogar. Pelo que vi até agora, tudo continua na mesma, as deficiências e as virtudes. O goleiro Cássio continua grande, no tamanho e na qualidade técnica.
Segue a expectativa exagerada, fora da realidade, com os clássicos meias de ligação, como Lucas Lima, Luan, Raphael Veiga e outros, como se jogadores desse tipo fossem insubstituíveis e como se não brilhassem porque são indolentes.
Uma das deficiências mais marcantes nas equipes brasileiras é o excesso de espaços deixados entre os setores.
Isso dificulta a troca de passes e facilita para o adversário organizar as jogadas. Todos os grandes de São Paulo repetiram essa deficiência no retorno ao futebol.
O São Paulo recuava Daniel Alves e Tchê Tchê para iniciar as jogadas entre os zagueiros, mas deixava enormes espaços entre eles e os jogadores da frente, ainda mais que o meia Igor Gomes se posicionava muito próximo dos atacantes Pato e Pablo. Todos os grandes times europeus recuam apenas um volante para iniciar as jogadas entre os zagueiros, e não dois, como faz o São Paulo.
Assim como existem times e treinadores brasileiros que tentam evoluir e mudar, algumas grandes equipes da Europa, como o PSG, possuem estratégias coletivas parecidas com as usadas no Brasil.
Na vitória por 4 a 0, no amistoso contra o Celtic, o time francês jogou com quatro defensores, dois no meio-campo, dois pontas, um centroavante e Neymar, centralizado, livre, de uma intermediária à outra. Parecia um meio-campista.
Neymar recebia a bola no próprio campo, tentava driblar uns três à sua frente, muitas vezes conseguia, mas, quando perdia a bola, deixava a defesa toda desprotegida. Essa estratégia é ótima para Neymar e o time enfrentarem equipes fracas. Espero que Tite não faça o mesmo na seleção.
Uma equipe que tem dois atacantes magistrais, como Neymar e Mbappé, é candidata a ganhar qualquer título, desde que o técnico não atrapalhe tanto. Se os dois jogassem mais próximos e mais perto da área, o PSG ficaria muito mais forte.
Repito, todos os jogadores, especialmente os melhores, precisam encontrar seu lugar em campo, que seja bom para eles e para o time. São poucos os bons jogadores que atuam muito bem em todas as posições.
Um deles foi Zé Roberto, que parou de jogar no fim de 2017, pelo Palmeiras. Ele foi brilhante como lateral esquerdo, como ala esquerdo, no esquema com três zagueiros, de ponta esquerda avançado, de meia de ligação, no Santos, e, principalmente, como meio-campista (segundo volante), atuando de uma intermediária à outra, como jogou no Bayern de Munique e na seleção brasileira de 2006, quando foi o único do time escolhido para a seleção do mundial.
Gostaria de perguntar a Zé Roberto onde ele acha que jogou melhor e teve mais prazer de atuar. Ele sabe melhor que todos nós.
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