De volta à arena, Lula ataca Bolsonaro e a Lava Jato
Entrevista ocorreu dois depois da anulação das decisões
processuais contra o ex-presidente no âmbito da Lava Jato
André Cintra,
portal Vermelho www.vermelho.org.br
Com críticas incisivas à operação Lava Jato, à grande mídia e ao governo
Jair Bolsonaro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou nesta
quarta-feira (10) ao centro da arena política nacional. Em “fala ao povo
brasileiro” no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (SP) – berço de sua vida
pública –, Lula discursou por quase duas horas e respondeu a perguntas de
jornalistas.
“Este país está totalmente desordenado e desagregado porque não tem
governo, não cuida da economia, do emprego, do salário, da saúde, do meio
ambiente, da educação, do jovem, da meninada da periferia. Ou seja, do que eles
cuidam?”, questionou Lula. Segundo ele, Bolsonaro diz que, no Brasil hoje, “é
tudo por conta” do ministro Paulo Guedes (Economia). Porém, “o País está
empobrecido, o PIB caiu, a massa salarial caiu, o comércio está enfraquecido, o
comércio varejista caiu, a produção de comida das pessoas está ficando
insustentável. E o presidente não se preocupa com isso”.
Ao tratar dos impactos da pandemia de Covid-19, Lula se solidarizou com
a família das vítimas e não poupou Bolsonaro. “O sofrimento que o povo
brasileiro está passando é infinitamente maior do que qualquer crime que
cometeram contra mim. É maior do que cada dor que eu sentia quando estava preso
na Polícia Federal”, afirmou. “A dor que sinto não é nada diante da dor que
sofrem milhões e milhões de pessoas. É muito menor do que a dor que sofrem
quase 270 mil pessoas que viram seus entes queridos morrerem (em
decorrência do novo coronavírus).”
Para o ex-presidente, é inaceitável a negligência do governo federal
diante do avanço da crise sanitária. Lula criticou o ritmo lento da vacinação
anti-Covid no País. “É uma questão de saber qual é o papel de um presidente da
República no cuidado do seu povo. Ele não é eleito para falar bobagem, fake
news.” Ao mencionar que tomará vacina na próxima semana, o ex-presidente
fez um chamamento aos brasileiros: “Não siga nenhuma decisão imbecil do
presidente da República ou do ministro da Saúde. Tome vacina, porque é uma das
coisas que pode livrar você do Covid”.
Mesmo com as acusações a Bolsonaro, Lula tergiversou ao falar em uma
possível candidatura presidencial em 2022. Na prática, não negou, nem tampouco
descartou: “Tem momento para tudo. Não podemos ficar respondendo se vamos ter candidato
agora ou não. Em 2022, o partido (o PT) vai pensar no momento
das convenções; discutir se vai ter candidato, se vai de frente ampla”. A seu
ver, quando a eleição se aproximar, “as coisas vão acontecendo”.
A entrevista ocorreu dois depois da mais importante vitória de Lula na
Justiça. Na segunda-feira (8), o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal
Federal (STF), anulou todas as decisões processuais contra o ex-presidente que
partiram da Justiça Federal do Paraná, no âmbito da Lava Jato. Assim, a perseguição
liderada pelo procurador Deltan Dallagnol e pelo ex-juiz Sergio Moro sofreu um
revés contundente. Lula – que chegou a permanecer por 580 dias na prisão – está
livre e voltou a ficar elegível a cargos públicos.
“Fiquei muito feliz porque, depois da divulgação de tanta mentira contra
mim, ontem eu acho que tivemos um Jornal Nacional épico. Quem
assistiu televisão não estava acreditando no que estava vendo. Pela primeira
vez, a verdade prevaleceu”, brincou Lula. “Eu tinha tanta confiança – e tanta
consciência do que estava acontecendo no Brasil – que eu tinha certeza que esse
dia chegaria. E ele chegou”, comemorou.
Lula se disse “vítima da maior mentira jurídica contada em 500 anos de
história”, mas afirmou não ter mágoas de ninguém. “Sou agradecido ao ministro
Fachin, que cumpriu uma coisa que a gente reivindicava desde 2016. A decisão
que ele tomou, tardiamente, cinco anos depois, ela foi colocada por nós desde
2016”, disse o ex-presidente.
Segundo Lula, havia uma obsessão da “quadrilha de procuradores da Lava
Jato” em atrelar seu nome a Petrobras: “Eu já tinha sido liberado em vários
outros processos fora da Lava Jato, mas eles queriam criar um partido político
para tentar me criminalizar”. O petista declarou que continuará “brigando para
que o Moro seja considerado suspeito. Ídolos de barro não duram muito tempo”.
Lula citou dados do impacto da Lava Jato na economia nacional. “Por
conta da Lava Jato, o Brasil deixou de ter de investimento R$ 172 bilhões. Só
por conta da Lava Jato, segundo estudo do Dieese, o país perdeu 4,4 milhões de
empregos”. O ex-presidente condenou também a política da Petrobras, que tem
provocado sucessíveis altas no preço dos combustíveis. “Não é possível permitir
que o preço do combustível brasileiro tenha que seguir o preço internacional se
nós não somos importador de petróleo.”
Lula cobrou urgência na liberação do novo auxílio emergencial, mas
contestou os ataques que o governo lançou no benefício, reduzindo o valor-base
de cada parcela e o número de favorecidos. “O Estado não tem que pagar R$ 600 a
vida inteira, mas só pode deixar de pagar quando estiver gerando emprego e as
pessoas estiverem gerando renda à custa de seu trabalho. Aí não precisa de
salário emergencial, disse. “Enquanto o governo não cuida de emprego, de salário,
de renda, em que ter o salário emergencial para que as pessoas não morram de
fome.”
·
Uma
vitória parcial. O jogo é pesado https://bit.ly/3vdZXEq
Nenhum comentário:
Postar um comentário