Por que tanto medo?
Frei Beto, Correio da Cidadania
Nas campanhas políticas anteriores, desde a redemocratização em 1985,
adesivos e cartazes de candidatos eram vistos afixados em veículos, lojas e
domicílios. Havia bandeiras de partidos expostas do lado de fora de
apartamentos e à frente de casas. Carreatas percorriam as principais vias das
cidades exibindo propaganda dos candidatos.
Agora, quem ousa afixar em seu carro um adesivo eleitoral, exceto em atos com
grandes concentrações? O que resta é a propaganda eleitoral no rádio e na TV e
nos comícios de candidatos majoritários. Nem parece que o destino de 215
milhões de brasileiros será decidido em menos de um mês por 156 milhões de
eleitores.
Os candidatos ao Legislativo ousam mostrar a cara, promover eventos de
campanha, sair às ruas em busca de votos. Querem ser cada vez mais conhecidos.
Mas o fazem cercados de cuidados. Sabem que correm o perigo de agressão física
e, quase sempre, entre aplausos e apoios, escutam uma ofensa ou injúria. Mas
não lhes resta alternativa senão enfrentar o risco.
Os candidatos a cargos majoritários são mais cautelosos. Contam com a proteção
de forças policiais e adotam esquemas profissionalizados de segurança. Em
concentrações públicas, o público é revistado e a segurança reforçada.
Fora momentos de campanhas e propaganda radiotelevisiva, há poucos indícios de
que o Brasil irá às urnas dentro de poucas semanas. As pesquisas indicam que o
eleitorado já sabe em quem votar, e o número de brancos e nulos tende a
decrescer. Mas o eleitor parece retraído quando se trata de batalhar por seus
candidatos.
Nas redes digitais, as campanhas correm soltas e o clima de guerra se acentua,
agravadas pela avalanche de fake news e tentativas de ridicularizar
adversários. O espaço virtual se aquece; o presencial arrefece.
Esse clima eleitoral inusitado se deve à cultura miliciana que paira sobre a
população brasileira como uma nuvem densa e pesada a ameaçar dilúvio. O ar que
respiramos está impregnado de belicismo. Teme-se, não uma palavra ofensiva do
adversário, mas uma facada ou um tiro.
É a banalização do mal. Ou melhor, a bolsonarização da violência.
Esta é a campanha eleitoral do medo. O medo é uma reação involuntária em prol
de nossa sobrevivência. Temos medo de assalto e, por isso, não caminhamos
solitários por determinadas ruas à noite; o medo de atropelamento nos faz
esperar o sinal fechar; o medo de um cão nos impede entrar em uma casa enquanto
ele estiver solto.
Nosso medo é que o Inominável seja reeleito e, assim, acelere o desmonte do
Estado brasileiro e fortaleça o comércio de armas, o garimpo ilegal, a
impunidade a quem desmata nossas florestas. Medo de um arremedo de democracia
militarizada, de forças de segurança agindo ao arrepio da lei, de mulheres,
negros e indígenas prosseguirem vulneráveis à ação cruel da supremacia machista
e racista. Medo de que a fome prospere e a desigualdade social se agrave.
O medo é uma sensação de insegurança, pavor ou repúdio diante de uma pessoa, um
objeto ou uma situação. Quando temos medo, nosso cérebro produz substâncias que
disparam o coração, tornam a respiração ofegante, contraem os músculos.
Como perder o medo? Só conheço um antídoto: quando aquele ou aquilo que se ama
tem, a nossos olhos, um valor acima de nossas próprias vidas. Pode ser uma
pessoa, uma causa, um ideal ou até mesmo uma utopia. É o que imprime coragem
frente uma situação de ameaça. E o que está em jogo nesta eleição não é a minha
vida, é a vida de um povo, a independência de um país, a soberania de uma
nação, a conquista da democracia.
No 7 de setembro o bicentenário de Independência foi jogado para escanteio e o
que se viu foi um escandaloso uso da máquina pública, com dinheiro do
contribuinte, para tentar alavancar o candidato que ora ocupa o Planalto.
Ele, que tanto prometeu golpe na data, recuou. Faltaram-lhe apoios internacional
e do grande capital nacional. Restringiu-se a aglomerar supostos apoiadores
(sei de funcionários que votam Lula, mas embolsaram calados o dinheiro extra
dado pelo patrão e compareceram) e suscitar em coro um refrão chulo digno de
cervejada miliciana: “Imbrochável!”, enlameando a família brasileira que ele
diz tanto defender e respeitar.
Chegou a hora de dar um Basta! Pelo voto haveremos de manifestar nossa vez e
voz em prol de um Brasil sem medo de ser feliz.
Veja: O teólogo cristão e a poeta: um gesto de confiança e de
afeto https://bit.ly/3QKokTX
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