Bolsonaro chega à reta final com desempenho
inferior ao de 2018 em 15 estados e no DF
Levantamento
do GLOBO comparou votos para presidente no primeiro turno em 2018 com os
índices de votos válidos medidos pelas últimas pesquisas do Ipec; desidratação
é puxada, principalmente, pelo Sudeste
Marlen Couto e Ana Flávia Pilar, O Globo
Quase quatro
anos pós ser eleito presidente, em meio a uma onda antipolítica, Jair Bolsonaro
(PL) tem hoje desempenho nas pesquisas aquém da votação que alcançou no
primeiro turno das eleições de 2018 em ao menos 15 estados e no Distrito
Federal. É o que revela um levantamento do GLOBO que comparou os votos em
Bolsonaro computados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em cada unidade
federativa com os índices de votos válidos medidos pelas pesquisas mais
recentes do Ipec.
Os números
ajudam a mapear onde estão os maiores desafios eleitorais do presidente, que
segue entre 16 (Ipec) e 14 (Datafolha) pontos atrás do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva (PT) na corrida pelo Planalto enquanto busca recuperar o
eleitor que já o escolheu no passado. O levantamento mostra que a desidratação
de Bolsonaro medida pelos levantamentos é puxada, principalmente, pelos estados
do Sudeste, região que concentra os três maiores colégios eleitorais do país e
que será o foco das campanhas na reta final. O fenômeno também é observado em
locais onde o presidente segue liderando a corrida, como Santa Catarina e Mato
Grosso, mas agora conta com uma vantagem menor em relação a Lula.
Para fazer o
mapeamento, O GLOBO considerou os votos válidos medidos pelo Ipec e a margem de
erro geral das pesquisas, de três pontos para mais ou menos. O índice
desconsidera os indecisos e os votos em branco e nulos e é o que mais se
aproxima do cálculo feito pelo TSE para determinar o resultado da disputa. Para
chegar aos estados em que o presidente perdeu força em algum grau, foram
contabilizadas, portanto, apenas as reduções a partir de quatro pontos
percentuais.
Leia também: Duas táticas na
reta final e a ameaça de golpe https://bit.ly/3LyctaB
Um fator a ser
considerado, porém, são as abstenções. As pesquisas não captam quantos
eleitores não vão comparecer às urnas, índice que afeta diretamente a contagem
de votos válidos. Ao fazer as entrevistas, o Ipec busca amenizar esse efeito ao
usar um universo de “votantes”, ou seja, um filtro inicial a partir de uma
pergunta genérica sobre participação em eleições. Se o entrevistado responder
que não votou no último pleito, ele é excluído da amostra.
Votos em casa
O Rio, onde Bolsonaro começou sua carreira política, é o estado em
que o presidente perde, no momento, mais adesão, na comparação com 2018. O
candidato do PL tem hoje 20 pontos a menos nas pesquisas do que o patamar
atingido nas urnas no pleito passado, considerando os votos válidos medidos
pelo Ipec. Há quatro anos, o presidente teve 60% dos votos no estado já no
primeiro turno. No momento, ele tem 36% das intenções de voto, na pesquisa
estimulada, e 40% dos votos válidos.
Em São Paulo, essa diferença é de cerca de 16
pontos. Bolsonaro marcou 53% dos votos válidos no primeiro turno da eleição
passada. A última pesquisa Ipec, divulgada no início da semana, mostra que o
presidente tem 33% das intenções de voto e 37% dos votos válidos. Em Minas
Gerais, onde tradicionalmente os presidentes eleitos também ganham, Bolsonaro
atinge 35% dos votos válidos. Há quatro anos, ele contabilizou 48% dos votos dos
mineiros.
Professor do Departamento de Ciência Política
da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Josué Medeiros vê na
desidratação eleitoral do presidente o efeito da avaliação negativa do governo,
puxada por pontos como a inflação e a corrosão da renda.
— O governo é mal avaliado e não consegue
recompor as intenções de voto. Em 2018, Bolsonaro era uma expectativa, uma
promessa. Hoje, é o governo que ele realizou. Outra dimensão é que o
antipetismo enfrenta nas urnas Lula, e não Fernando Haddad. Com Lula, vemos o
antipetismo voltar a patamares históricos — avalia.
Na comparação com Haddad, candidato do PT em
2018, Lula tem hoje desempenho melhor principalmente nos maiores colégios
eleitorais. Se há quatro anos, o ex-prefeito teve apenas 16% dos votos em São
Paulo, hoje o Ipec mostra Lula com 48% dos votos válidos. Mudança semelhante é
observada no Rio, onde o ex-presidente marca 46% das intenções de voto, ante
15% de Haddad em 2018.
Apoio perdido
Bolsonaro também atinge patamares menores de intenções de voto que
o alcançado por ele em 2018 mesmo nas regiões Sul e Centro-Oeste, onde sua
campanha costuma ter maior apoio. Em Santa Catarina, por exemplo, o presidente
teve 66% dos votos no primeiro turno do pleito passado. Hoje, ele ainda está à
frente de Lula no estado, mas com uma vantagem menor do que tinha em relação a
Fernando Haddad. Na última pesquisa Ipec, Bolsonaro aparece com 55% dos votos
válidos.
— Em 2018, não só em Santa Catarina e no Rio
Grande do Sul, havia um sentimento contrário ao petismo generalizado,
respaldado na Lava-Jato e em escândalos como o petrolão. A visão desrespeitosa
em relação a quem exerce o papel de governante recaiu sobre o PT há quatro
anos. E hoje está recaindo sobre Bolsonaro — analisa o cientista político da
Fundação Getulio Vargas (FGV) Eduardo Grin.
Em três estados
(Amapá, Amazonas e Paraíba), o recuo de Bolsonaro é menor e está mais próximo
da margem de erro. Em dez estados, todos do Norte e Nordeste, o atual
presidente mantém o desempenho do primeiro turno de 2018. Neste grupo, o estado
com maior número de eleitores é a Bahia, onde o presidente tem apenas 20% dos
votos válidos, segundo o Ipec, três a menos que o conquistado nas urnas em
2018. Roraima é o único estado em que Bolsonaro tem mais intenções de votos válidos
nas pesquisas (67%) que o computado há quatro anos (63%) — a diferença está
fora da margem de erro.
Leia também: Lula chega à
última semana de campanha com 47% do votos e 14 pontos à frente de Bolsonaro,
que tem 33% https://bit.ly/3S75Z57
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