Para 44%, chances de Bolsonaro se reeleger
diminuíram após as manifestações do 7 de Setembro
Maioria
dos eleitores considera inadequado o comportamento do presidente nos atos pelos
200 anos da Independência
Nicolas Iory, O Globo
O presidente Jair Bolsonaro (PL) apostou na mobilização de
apoiadores nas celebrações do 7 de Setembro para ganhar fôlego na busca pela reeleição e
diminuir a vantagem de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na liderança das
pesquisas de intenções de voto. Só que mais brasileiros acreditam que as
chances de vitória de Bolsonaro diminuíram depois das manifestações do que
aqueles que dizem ver ganhos eleitorais para o presidente.
Segundo a nova pesquisa “A Cara da
Democracia”, 44% dos eleitores afirmam que Bolsonaro passou a ter menos chances
de ser reeleito depois dos atos nos 200 anos da independência do Brasil. Cerca
de um terço (36%) acha que as chances de vitória bolsonarista aumentaram.
Outros 9% consideram que o 7 de Setembro não mudou nada para a candidatura do
atual chefe do Executivo.
Autor do livro “Liderança e Poder”, no qual a
política brasileira é analisada a partir de conceitos apresentados pelo
filósofo Nicolau Maquiavel, o doutor em Ciência Política Aldo Fornazieri diz
que Bolsonaro confundiu os papéis de presidente e candidato durante o
bicentenário:
— A ideia do “dividir para governar”, atribuída de modo indevido a Maquiavel, é na verdade uma tese militar, não política. Na política, você tem que unir para governar. E o Bolsonaro se comportou como presidente de uma facção, de um grupo que tenta aumentar a divisão, e não a união.
Durante celebrações oficiais para comemorar o
segundo centenário da Independência, Bolsonaro adotou tom de campanha, defendeu
seu governo e reafirmou apoio a pautas conservadoras. Puxou para si o coro de “imbrochável” e foi
criticado por declarações consideradas machistas.
A pesquisa feita pelo Instituto da Democracia
(IDDC-INCT) indica que 54% dos eleitores classificam como pouco ou totalmente
inadequado o comportamento de Bolsonaro no 7 de Setembro. São 31% os que não
viram problemas no modo como o presidente agiu nos eventos.
Aldo Fornazieri avalia que a autorreferência
de Bolsonaro como “imbrochável” diante de uma multidão em Brasília foi a
passagem mais danosa para a candidatura do presidente:
— Aquilo colocou no chão a dignidade que um
presidente da República deve ter. Foi o fato que mais repercutiu no dia do
bicentenário da Independência. Essa agressão ao cargo, que é um evento estranho
para a política do país e que até por isso teve repercussão internacional,
pegou muito mal e deixou até eleitores dele envergonhados.
As sondagens que rastreiam as intenções de
voto para presidente confirmam que não houve ganhos para Bolsonaro na busca
pela reeleição. Segundo o Ipec, o candidato do PL mantém a
preferência de 31% dos eleitores, mesmo patamar em que estava antes do 7 de
Setembro. Já Lula, o líder em intenções de voto, oscilou de 44% das menções
para 47% de lá para cá.
Feita pelo Instituto da Democracia, a
pesquisa “A Cara da Democracia” entrevistou presencialmente 1.535 eleitores em
101 cidades de todas as regiões do país entre os dias 9 e 14 de setembro e foi
contratada pelo CNPq e Fapemig. A margem de erro total é de 2,5 pontos
percentuais para mais ou menos com índice de confiança de 95%.
Leia também: Estive na UTI, mas já estou nas ruas - lutando https://bit.ly/3xn8CXR
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