26 agosto 2024

Roberto Trevas: geopolítica

CONFLITO DO SUL DO MAR DA CHINA
Roberto y Plá Trevas*   

O presente trabalho tem  por finalidade fazer uma análise de dois artigos da mídia ocidental e asiática sobre os conflitos do sul do mar da China,  que envolve diretamente a República Popular da China, Taiwan, Filipinas,  Indonésia, Vietnam além do  Império do Norte, os Estados Unidos da América, mentor e incentivador desse conflito, que persiste  e perdura há vários anos  entre estas nações.

O primeiro artigo escrito em 14/07/2024 pelo filipino Ramon Royandoyan, correspondente em Manila do Jornal Econômico japonês Nikkei Asia, onde são feitas considerações na relação entre o Japão e as Filipinas no desenvolvimento do lançamento de laços e estratégias entre essas nações visando o enfrentamento com a República Popular da China sobre o conflito dessa área tão disputada, qual seja, o mar do sul da China.

Recentemente foi assinado um acordo que permite que tropas japonesas em conjunto com tropas Filipinas façam exercícios de treinamento, permitindo que esses países desenvolvam estratégias militares visando possíveis enfrentamentos com a marinha chinesa. 


Nesse sentido foi assinado o “Tratado de Acesso Recíproco”,  em 14/07/2024,  pelo Primeiro Ministro Japonês. Fumio Kishida e o Presidente das Filipinas,  Ferdinand Romualdez Marcos Jr. (Bongbong Marcos), que foi um terceiro acordo militar entre esses dois países,  e inclusive esse tipo de acordo foi também  assinado há um ano atrás com os Estados Unidos da América e a Australia, o que demonstra o envolvimento das potências ocidentais nesse tão delicado assunto do mar do sul da China.

Segundo um porta-voz das Forças Armadas das Filipinas, “esse Acordo permite a entrada do equipamento, navios e tropas entre o Japão e os Filipinas,  insinuando inclusive que outros pactos e acordos poderiam ser acrescentados ao “Tratado de Acesso Recíproco, Original”, demonstrando  sem dúvida o interesse do Japão e das Filipinas em  potencializar esse conflito.

O Professor Don Mclain Gill, analista e estudioso da De La Salle University, de Manila, espera  e sugere que esse Acordo poderá proporcionar transferência de tecnologia entre as forças armadas desses dois países, apesar do Japão ter restrições  desde o fim da II Guerra Mundial em fornecer equipamentos bélicos para outros países,  porém como existe o interesse dos Estados Unidos da América em que o Japão se una as Filipinas para o enfrentamento do conflito do sul do mar  da China, esse impedimento armamentista que impede o Japão de se fortalecer referentemente ao seu poder bélico, aos poucos estão sendo flexibilizados.

É importante salientar e relembrar a ingerência americana nas Filipinas que remonta desde a década de 1960,  que no período de 1965 a 1986, as Filipinas foi governada pelo ditador Ferdinand Marcos,  que nesses 21 anos permitiu ao governo americano instalar 5 bases militares nesse período,  com mais um agravante, o filho do ditador Ferdinand Marcos, o atual Presidente Ferdinand Marcos Jr.,  eleito em  junho de 2022,  já permitiu ao governo americano a instalação de mais quatro bases militares no solo filipino, totalizando nove bases militares americanas, o que demonstra claramente a interferência dos Estados Unidos da América no Sudeste Asi ático e consequentemente no conflito extremamente perigoso, em curso, envolvendo a República Popular da China e os demais países  já citados no conflito do sul do mar da China. Chester Cabalza, fundador do “Instituto para o Desenvolvimento da Cooperação sobre Segurança”,  de Manila Filipinas declara que “ambas as partes, Japão e Filipinas, classificam  essa cooperação extremamente estratégica tanto no campo da defesa como da diplomacia”,  e reforça o interesse e o alinhamento desses países asiáticos com os Estados Unidos da América,  sempre aliado desses países nesse conflito estimulado pelo império do norte contra o império do meio, que segundo a ótica americana, a República Popular da China, a segunda potência econômica do mundo, para eles (o império do norte) será semp re uma ameaça e portanto vamos interferir no conflito do sul do mar da China.

É de fundamental importância explicar efetivamente a que se refere essa contenda sobre a verdadeira história desse conflito do sul do mar da china.

A República Popular da China reivindica e assume que as principais ilhas dos arquipélagos  de Paracel e Spratly,  pertencem a China, além de que essa área é de estratégica importância para navegar para o estreito de Taiwan, o estreito de Malaca (transitam navios  para todo o mundo com volume de recursos de cerca de US$ 3 trilhões,  além do estreito de Lombok. O mais importante de tudo são as reservas de petróleo (125 bilhões de barris), gás (500 trilhões de m3), comparando com o pré-sal no Brasil  que tem  cerca de 176 bilhões de barris de petróleo e gás. Portanto essa disputa al ém de proporcionar na área rotas marítimas de maior  circulação de navios, essa riqueza contida na área,  de um enorme volume de petróleo é a razão principal da ingerência americana através dos seus aliados, Japão, Filipinas, Taiwan, Indonésia,  dentre outros,  em tornar essa área em  uma zona de conflito permanente.

A República Popular da China, tem registros seculares comprovando que essas ilhas dos arquipélagos de Paracel  Spratly são de propriedade há séculos do Império do Meio, o que é contestado perante a ONU por esses outros países interessados nessa área.

O segundo artigo é escrito pelos jornalistas Karen Lema e Mikhail Flores, em 17/07/2024, ambos pertencem a Agência Reuters, a maior agência internacional de notícias do mundo, britânica e com sede em Londres.

Nesse artigo é citado que a China e Filipinas implantaram uma nova linha de comunicação  para tentar minimizar esses confrontos marítimos  que ocorreram entre esses dois países no território  do mar do sul da China, relembrando que como as Filipinas são aliadas e cúmplices dos Estados Unidos da América, que incentiva e apoia essa disputa entre a China e os outros países sobre  a ocupação chinesa nos diversos arquipélagos que compõem esse tão disputado espaço marítimo. Nesse sentido a China e a Filipinas concordaram  apesar da discordância americana, em  fortalecer ainda mais esse diá logo diplomático no sentido de promover salvaguardas visando a estabilidade nessa área. É bem recordar que no mês passado (junho/2024) as Filipinas acusaram a Guarda Costeira Chinesa de atacar um barco filipino nessa  área,  inclusive ocorrendo vítimas em marinheiros filipinos.

É bem frisar que, segundo Antonio Carpio, Ministro da Suprema Corte das Filipinas “a China não tem interesse em resolver essa disputa” e inclusive ele não acredita em milagres na resolução dessa disputa acirrada, apesar da China ressaltar que esses arquipélagos pertencem  a República Popular da China, desde a época da dinastia Ming que foi do século XIV ao século XVII.

Concluindo, da análise dos articulistas da Reuters e da Nikkei Asia, podemos verificar que a abordagem da mídia ocidental e parte da asiática direciona a uma interpretação para que os leitores tenham uma percepção que o vilão desse desentendimento é a República Popular da China, e que os diversos países interessados neste conflito, tais como Filipinas, Indonésia, Vietnam, Japão, dentre outros estão apresentando  demandas legítimas visando a possível integração desses arquipélagos, segundo a ótica deles, usurpado pela China.

Sem dúvida e resumindo é uma questão geopolítica onde o principal interessado político e economicamente chama-se Estados Unidos da América, entretanto o “Império do Meio”,  com sua sabedoria milenar e seguindo os preceitos confuncionistas saberá conduzir com imparcialidade e estrategicamente esse impasse que ocorre no sul do mar da China.   

            
REFERÊNCIAS

CUNHA, Paulo. China de confucio a modernidade. Scortecci, 2005.
JABOOUR, Elias; GABRIELE, Alberto. China e o socialismo do século XXI. São Paulo: Boitempo, 2020.
KISSINGER, Henry. Ordem mundial. Objetiva, 2015.
LEMA, Karen; FLORES, Mikhail. Filipinas dizem que acordo com China sobre Mar do Sul da China pode ser revisto... Disponível em: https://www.bol.uol.com. br/noticias/2024/08/13/filipinas-dizem-que-acordo-com-china-sobre-mar-do-sul-da-china-pode-ser-revisto.htm?cmpid=copiaecola. Acesso em: 14 agosto 2024.
ROMAN, Ramon. Nikkei Asia. Disponível em: https://asia.nikkei.com/. Acesso em: 10 agosto 2024.

*Engenheiro, ex-coordenador de Relações Internacionais da Prefeitura do Recife

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