24 junho 2025

Enio Lins opína

Tempo junino, repleto de foguetes no ar e fogueiras na terra
Enio Lins 

VIVA SÃO JOÃO! Como sempre nesta época do ano, esta coluna discorre sobre o período junino e suas festas tão marcantes no Brasil, mui especialmente no Nordeste. Hoje vamos, para variar, comparar os fatos do início do Cristianismo com o momento presente.

REPITO O BÁSICO: nossas festas juninas têm origem na Europa pagã. Com a chegada do Cristianismo por lá, as festas dedicadas à deusa Juno – de tão populares que eram –só puderam ser assimiladas com a substituição da divindade junina por três santidades: Pedro, Antônio e João. A referência é o solstício (de verão no Hemisfério Norte, e de inverno no Hemisfério Sul), sempre nas imediações do dia 24. Como os escritos antigos indicam o nascimento de João seis meses antes de seu primo Jesus, mas não indicam dia, nem época do ano, os líderes cristãos inventaram que seriam nos dias 24 de junho e de dezembro para tomar conta das duas festividades deliciosamente pagãs. Assim, no ancestral formato pândega (com imoderação em bebida, comida, música, dança , namoro...), abençoada pela Igreja Católica, a folia segue em cartaz.

VAMOS ÀS SEMELHANÇAS entre o ontem e o hoje: as vidas e mortes de João e Jesus estão entrelaçadas no antigo Oriente Médio, ambos eram judeus. Não precisamos falar aqui do que eles pregavam, pois suponho certa intimidade de vocês com o Novo Testamento. Vamos às questões políticas. Quando os citados primos nasceram, o rei da Galileia era Herodes, o Grande; quando foram mortos, reinava Herodes Antipas, filho do tetrarca anterior. O reino hebreu era vassalo do Império Romano, e César era quem autorizava os mandos e desmandos da elite semita. Herodes pai determinou o assassinato das crianças no ano um. Herodes filho executou João, por volta do ano 29, e acompanhou a crucificação de Jesus no ano 33. Pergunte, por favor: o que isso tem a ver?

ENQUANTO OS FOLES roncarem no alto das serras, hoje, bombas estarão estourando nas terras de Herodes, Jesus e João, e (muito mais) no território persa. As fogueiras lá ardem em altas labaredas, matando. Na antiga Galileia, neste auto junino de 2025, Bibi Netanyahu é Herodes em dose dupla (pai e filho), o reino judaico é o estado sionista, e o Império Romano é o Império americano, e, como César, Trump no papel de um Nero mais doidivanas que o original. Diferenças existem, lógico: Herodes teria matado um número incerto de bebês, talvez centenas; Bibi matou, no mínimo, 50 mil crianças em Gaza.

NO ANO 1 E ANO 33, as crianças e os dois adultos foram executados em crimes justificados como gestos de autodefesa do reino semita, eliminando elementos tidos como ameaças à existência da Judeia naqueles idos. Mas o sangue derramado não impediu a destruição do estado mosaico, que ruiu no ano 70, provocando (especialmente depois da derrota da rebelião de Massada, em 73) a dispersão dos povos hebreus pelo mundo, numa diáspora sofrida, e considerada por correntes religiosas judaicas antissionistas, como os Haredi, os Neturei Karta, os Satmar... como uma condenação eterna de Deus (o veto a um Estado judeu) pelos pecados cometidos por seu povo.

VIVA JOÃO! Judeu messiânico, reconhecido como profeta, para além dos textos religiosos, pelo historiador judeu romanizado Flávio Josefo (vivente entre os anos 37 e 100); São João para os cristãos, como percussor do Cristo; para os muçulmanos ele é Nabi Iáia ibne Zacaria (Profeta João, filho de Zacarias); para estudiosos do espiritismo, João teria sido a reencarnação do profeta Elias, e em reencarnações posteriores, Jan Russ, José de Anchieta, Allan Kardec e Chico Xavier... Em resumo, o João que crentes e descrentes festejam hoje foi um semita pacifista. Vamos fechar um acordo nessa característica unânime. Que João Batista seja celebrado, em farras e/ou em orações, pela Paz, contra todos os Herodes, contra todas as guerras e agressões de todos os tipos.

[Se comentar, assine]

"No São João não sou ex" https://lucianosiqueira.blogspot.com/2023/06/minha-opiniaocronica_23.html

Nenhum comentário: