Para os Estados Unidos de Trump direito de opinião é dever de bajulação
Enio Lins
HÁ DOIS DIAS, no dia de São João, a embaixada dos Estados Unidos no Brasil emitiu um comunicado determinando que quem solicitar visto de estudante terá de escancarar seus perfis nas redes sociais para que a polícia política americana possa fazer uma varredura completa. Caso seja encontrada alguma manifestação considerada desfavorável para o atual grupo ocupante da Casa Branca, nada feito: o visto será negado.
ESSE COMUNICADO confirma orientação já praticada pelo governo Trump. No dia 11 de junho, um jovem norueguês de 21 anos, Mads Mikkelsen, foi barrado no Aeroporto Internacional Newark Liberty, em Nova Jersey. A polícia política americana localizou em seu celular uma caricatura do vice-presidente JD Vance. O meme, de ampla circulação na internet, apenas mostra a cara do vice Vance como um bebê reborn careca, ou algo do tipo. Bobagem. As autoridades americanas tentaram justificar, argumentando que o estudante havia sido deportado por suposta confissão de consumo de drogas – mas como proibir a entrada de alguém por esse motivo no país que teve Elon Musk como ministro? Essa desculpa esfarrapada sobre o garoto norueguês foi jogada no lixo de vez com o despacho da embaixada dos EUA no Brasil.
POLÍCIA POLÍTICA, YES. Pois é no que está sendo transformada a estrutura de segurança americana, a partir dos órgãos de controle de migração. Mas essa concepção – que não é estranha à história americana, como atestam as trajetórias do FBI, CIA e congêneres – tende a se espalhar, de forma escancarada, por toda rede policial estadunidense, sob a tutela do Departamento de Segurança Interna, o DSH (U.S. Department of Homeland Security). O entendimento de proteção rigorosa contra estrangeiros supostamente inimigos da grande nação por critérios raciais, ideológicos, políticos e econômicos foi uma das marcas da célebre Geheime Staatspolizei, que imperou na Alemanha, entre 1933 e 1945. Como a história ensina, aos inimigos externos, esse conceito autoritário som a, em seguida, os inimigos internos.
DESDE O INÍCIO DE JUNHO, a contabilidade apontava para 51 mil pessoas detidas como imigrantes ilegais pelo ICE (sigla em inglês para o Serviço de Imigração e Alfândega dos Estados Unidos). Segundo reportagem publicada pela BBC e MSN, “autoridades da Casa Branca declararam esperar que o ICE possa atingir até 3 mil prisões por dia, o que representa um aumento significativo em relação às cerca de 660 detenções diárias, verificadas durante os primeiros 100 dias do segundo mandato de Trump”. É o fantasma do inimigo externo assombrando a América que quer ser grande novamente, apesar de nunca ter deixado de ser, mas almeja ser mais dominadora, mais preconceituosa, mais racista, mais branca, mais protestante, mais anglo-saxônica, mais sionista, mais europeia-ocidental, mais escravocrata...
VIZINHO MESTIÇO, latino e tido como ladino, o Brasil entra na lista de indesejáveis, com exceções feitas em benefício de simpatizantes de Trump que disponham de dólares a mancheias para despejar na economia doméstica americana. Segundo o postado por um ex-ministro bolsonarista, o deputado Dudu Bananinha, homiziado nos Estados Unidos, estaria gastando (nos primeiros três meses de autoexílio na Disneyworld e vizinhanças) algo como R$ 8 milhões (cerca de R$ 3 milhões por mês) do dinheirinho sugado que papai Zero-zero, tal qual carrapato, subtrai, em PIX, do gado fanatizado e/ou do crime organizado. Um turista desses, certamente, nem precisa mostrar o celular, pois está pagando para conspirar, contravir, contra seu próprio país e a favor de Donald, Elon et caterva. Mas quem queira ir aos Estados Unidos para estudar, aí é outra história: tem d e se submeter, ter a vida vasculhada em busca de algum exercício da liberdade de opinião. Se não beijar as patas de Trump e seu sistema autoritário e exclusivista, não entra.
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Leia: Trump e o vasto leque de indesejáveis https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/02/uma-cronica-de-ruy-castro.html
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