A democratização do mercado de opinião
Luis
Nassif, em seu blog
A
coluna de sexta-feira especulava sobre a possibilidade do terceiro turno – a
tentativa de ganhar no tapetão as eleições. Foi escrita antes da divulgação da
capa da revista Veja, com a informação de que o doleiro Alberto
Yousseff havia acusado Dilma Rousseff e Lula de participarem dos esquemas da
Petrobras.
Na
reportagem, limitava-se a colocar uma suposta pergunta do delegado ou
procurador (sobre quem mais sabia do esquema), uma suposta resposta do doleiro
(que Dilma e Lula sabiam). Só: uma frase apenas. Na sequência, a revista
informa que o delator não apresentou nenhuma prova e nem lhe foi exigida. No
mesmo dia, em entrevista ao insuspeito O Globo, o advogado do doleiro garantiu
não ter havido o diálogo.
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É
a enésima tentativa de grupos de mídia de tentar influir em eleições através de
notícias falsas ou deturpadas. Em toda eleição, sempre há um festival de
denúncias que surgem, explodem e desaparecem como se nunca tivessem ocorrido.
A
maioria absoluta desses factoides desaparece no tempo, sem que nada ocorra com
os divulgadores de notícias falsas.
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Essas
manipulações trazem à tona a discussão sobre o aprofundamento da democracia.
Como
reza a Constituição, todo poder emana do povo. As discussões, formação de
opinião, direito à informação se dá no chamado mercado de opinião. Em muitos
aspectos, trata-se de um mercado similar a outros mercados. Quando existe
competição, o consumidor é beneficiado; quando não existe concorrência,
impõe-se ao consumidor qualquer produto por qualquer preço. No caso da
informação, apenas a parte da notícia que interessa ao emissor.
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Desde
o aparecimento de tecnologias de transmissão, especialmente após o advento da
TV aberta, em todo mundo democrático os grupos de mídia tornaram-se os
personagens mais influentes do mercado de opinião, mais do que as religiões, os
sindicatos e os próprios partidos políticos.
Cada
salto tecnológico – telégrafo sem fio, telefonia, radiodifusão, televisão –
acabava enquadrado em monopolios públicos, entregues aos grupos com maior
influência política.
Para
amenizar o extraordinário poder das emissoras, a concessão do espaço público
para empresas de mídia veio acompanhada da exigências de se respeitar a
pluralidade cultural, religiosa, política, de não se alinhar com candidatos ou
partidos políticos.
Na
prática, não ocorreu. Não apenas no Brasil, mas em outras democracias de
mercado ocorreram abusos e interferências indevidas de grupos de mídia, que
acabaram se tornando o principal ator político nas democracias.
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O
advento da Internet pela primeira vez trouxe a competição ao mercado de
opinião. Não havia mais as restrições à entrada de novos players – como no
rádio e na TV. Além disso, todos os atores sociais – de grupos de mídia a
cidadãos individuais – passaram a atuar no mercado de opinião dentro da mesma
plataforma tecnológica.
A
perda de eficiência cada vez maior das denúncias e dos factoides jornalísticos
é sinal desses novos tempos. Em parte, devido ao rebate das redes sociais. Em
parte, pelos exageros das denúncias não fundamentadas.
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Um
dos desafios do próximo governo será atuar com ferramentas de mercado,
aplicando regras de direito econômico e de aprofundamento da democracia,
definindo limites à concentração da propriedade do setor.
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