A flexibilização do mal
Paulo Câmara*, no portal Vermelho
A tentativa de mudar o
Estatuto do Desarmamento, atualmente em debate no Congresso Nacional, pode
representar o maior retrocesso da história política recente do Brasil. O
projeto de lei 3.722/2012 é recheado de verdadeiras barbaridades que não
combinam em nada com a cultura de paz que desejamos estabelecer no nosso país.
Falar em mudança no Estatuto do Desarmamento é
querer impor uma cultura da violência, de resolver qualquer questão na base do
tiro.
A proposta em questão traz ideias absurdas, como
reduzir a idade mínima para comprar armas de fogo, dos 25 para os 21 anos;
liberar a publicidade; ampliar a validade do porte de três para dez anos;
ampliar para nove armas e 600 munições para cada uma a aquisição por ano (hoje
o limite é de cinco armas e 50 munições). Chega ao cúmulo de autorizar pessoas
que respondam inquérito ou processo a ter e portar armas.
Qualquer pessoa de bom senso que leia esse conjunto
de proposições conclui que o projeto pretende transformar o Estatuto do
Desarmamento numa verdadeira Lei de Incentivo ao Porte de Armas. Trata-se de
uma aberração, disfarçada de "desburocratização". É inaceitável.
Os dados positivos sobre o Estatuto do Desarmamento
são públicos e conhecidos, mas precisam ser repetidos sempre: entre 2003 (ano
da aprovação da nova legislação) e 2012, cerca de 120 mil mortes por armas de
fogo foram evitadas; o aumento médio do número de homicídios por armas de fogo
caiu de 8,36% ao ano para 0,53% ao ano; de 1980 até 2003, a taxa de homicídios
por 100 mil habitantes cresceu de 11,7 para 28,9 e caiu após a implantação do
estatuto.
Andar armado não significa estar seguro.
Diariamente, vemos exemplos bárbaros comprovando o contrário, casos nos quais a
existência de uma arma de fogo causou mortes, seja por acidente ou por uma
briga de motivação banal.
Outro efeito imediato das mudanças propostas para a
lei será abastecer os criminosos e não os "cidadãos de bem", como
querem fazer acreditar aqueles que pretendem destruir o Estatuto do
Desarmamento. E por quê? Porque pesquisas recentes comprovam que a maioria das
armas apreendidas no país atualmente é de fabricação nacional.
Restringir a venda de armas é o melhor caminho para
impedir que essa tendência se amplie. É comprovado que o desarmamento é um
instrumento fundamental no combate à violência e à criminalidade.
Por todas essas razões, o governo do Estado de
Pernambuco resolveu promover o Ato Contra a Flexibilização do Desarmamento. Em
Pernambuco, sob a liderança e a inspiração do então governador Eduardo Campos,
construímos, dia a dia, uma das mais bem-sucedidas políticas de enfrentamento
da questão da violência e da segurança pública do país, por meio do programa
Pacto pela Vida.
As pessoas engajadas na construção de um Brasil
civilizado, desenvolvido social e economicamente, têm a obrigação cívica de se
mobilizar contra esse retrocesso sem tamanho. Esse encontro é mais um exemplo
do espírito de vanguarda dos pernambucanos, que sempre estiveram sintonizados
com os ideais progressistas, com as bandeiras baseadas na Justiça e nos
princípios democráticos e republicanos.
*É governador de Pernambuco e vice-presidente
nacional do PSB
Leia mais sobre temas
da atualidade: http://migre.me/kMGFD
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