03 março 2016

Questão crucial

Instável correlação de forças
Luciano Siqueira, no portal Vermelho e no Blog do Renato

Ser estrela até que seria fácil, sair do Estácio - cantava Noel - era o "x" do problema.
No Brasil dos nossos dias, o "x" está na correlação de forças políticas.
Agora e sempre. E, sobretudo, hoje, quando o mar não está pra peixe e há uma onda direitista que penetra nas entranhas da sociedade feito gás venenoso.
Antes, quando Lula assumiu a presidência da República, idem.
Basta recordar que nas duas eleições gerais, em 2002 e 2006, elegemos o presidente, porém a maioria dos senadores e deputados federais havia apoiado Serra e Alckmin, respectivamente.
Para obter maioria parlamentar, o presidente fez acordos amplos - que implicaram, inclusive, na nomeação de ministros conservadores para pastas importantes, como o Ministério das Cidades.
Agiu corretamente, para assegurar a governabilidade e fazer o País avançar.
Dilma chegou à presidência em 2010 com maioria parlamentar, entretanto de matiz majoritariamente conservador.
E no pleito de 2014, deu-se o contrário: Dilma se reelegeu, mas correntes conservadoras e de assumido direitismo alcançaram maioria no Senado e na Câmara. 
Todos eleitos em escrutino universal. Quer dizer: a maioria dos brasileiros quis assim.
Há, obviamente, muitos fatores que contribuem para isso. O ambiente econômico, a pressão midiática, o sistema eleitoral distorcido, a fragilidade da maioria dos partidos e - destacadamente - o nível de consciência política e de organização do povo.
Povo esclarecido e organizado tem a possibilidade de votar com mais discernimento e segundo suas próprias aspirações. 
Nesse quesito, ainda estamos muito aquém do desejável.
Os 21 anos de ditadura militar provocaram um hiato na formação de uma consciência social avançada.
Desde as grandes batalhas nacionais travadas de 1984 e durante os governos Lula e Dilma, vem ocorrendo o inverso. Melhora relativamente o padrão de consciência política e de organização do nosso povo.
Muito insuficiente ainda, contudo.
O fato é que a assunção de um presidente de grande apelo popular e um ambiente econômico internacional e interno favorável, permitiu que o PT e aliados à esquerda comandassem uma ampla coalizão.
Uma aliança entre a esquerda e o centro.
Com a crise global e suas repercussões sobre a economia brasileira e a persistência de entraves de toda ordem, inclusive jurídico-formais, a protelação de reformação estruturais capazes de destravar o desenvolvimento do País e erros de condução política, o centro pende à direita e a esquerda se vê em desigualdade.
Nessas circunstâncias, a ofensiva direitista, via Operação Lava Jato em conluio com a mídia hegemônica, encontra terreno fértil.
Reagir é necessário. Em todas as frentes. Na grande política e junto ao povo.
Ao PCdoB e aliados, impõe-se “ir mais embaixo e mais fundo”, como diria Lênin, e mobilizar “os de baixo” para resistir à ofensiva das elites.
Disso depende, em médio prazo, a alteração da correlação de forças.

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