Sandro
Tapioca: ciência e arte
Luciano Siqueira
Com
movimentos ágeis põe o queijo, dobra a massa, enrola numa folha de bananeira e
a oferece ao freguês:- Pronto, doutor, está no ponto. E não é para me gabar
não, mas duvido quem faça melhor.
A tapioqueira
parece se orgulhar do que faz, com destreza e esmero. Que nem um ourives a
lapidar uma pedra preciosa.
A gente saboreia a
tapioca – uma delícia! – aceitando aquelas palavras como uma lição.
Importa, sim,
realizar cada tarefa cotidiana com cuidado. Que nem o ourives – ou a
tapioqueira ciosa do seu ofício.
A gente aprende durante o trivial ato de
comer tapioca no Alto da Sé, em Olinda.
Pena que nem todos os comensais se dão conta
disso, a maioria com aquele jeitão de turista apressado, que chega, olha em
torno, consulta o guia, confere as referências da igreja e a fotografa – na
mais das vezes não é bem a igreja o objeto da foto, mas os filhos, o pai, a mãe
ou o casal.
Para ter o prazer de chegar das férias e
dizer: “tá vendo a gente aqui, por trás tem uma igreja e, não dá para ver
direito, mas fizemos a foto em Olinda”.
Para eles, os turistas, experimentar a
tapioca é quase uma obrigação – está no Guia 4 Rodas. Nem procuram saber ao certo
o que estão mastigando, muito menos se dão conta de que são servidos por uma
artista – a tapioqueira -, digna representante de nossa cultura.
Isso mesmo. A tapioca é coisa nossa, invenção
indígena, feita com a goma da mandioca que, espalhada numa frigideira, vira uma
massa tipo panqueca, arredondada, recheada com coco (ou com queijo ou que o
freguês preferir).
Tapioca bem feita é produto de verdadeiro
ritual, misto de ciência e arte. Não é pra qualquer um (ou uma). Como uma
relação de amor, pede jeito, dengo, habilidade e impulso criativo; e se renova
com o olhar, a palavra e o gesto.
Rendamos homenagem à tapioqueira. E saibamos
saborear a tapioca, com ou sem recheio além do coco; com um café quente ou suco
de frutas, a depender do estado de espírito do momento. Com licor também serve,
ou com uma boa cachaça. Porque tapioca é um afago ao paladar e um modo de viver.
Se tem dúvida, vá ao Alto da Sé e
experimente.
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