Luciano Siqueira, no Blog da Folha
Não há fórmula
definitiva para enfrentar situações críticas. Sobretudo quando a coisa pega sob
tantos aspectos, como a atual crise brasileira: econômica, financeira,
institucional, política...
Há que
se encontrar, digamos, uma solução ortodoxa.
Pois há
momentos em que as partes litigantes se dão conta de que uma saída há de ser
tentada de modo a postergar o confronto definitivo, quando reconhecem razões
fundadas para tanto.
Nos
dois polos do confronto político brasileiro estão o PT e o PSDB, considerados
também aliados dos dois lados.
O PSDB
venceu até agora a batalha do impeachment, consignando seu objetivo central
desde que proclamados os resultados do último pleito presidencial: inviabilizar
o segundo governo Dilma.
Mas se
não se consumarem os dois terços dos votos dos senadores, o impeachment enfim
não se concretizará.
Ponto
para o PT e aliados? Sim, mas nem tanto.
Com a
atual composição do Congresso, tão deterioradas as relações da presidenta com
as diversas bancadas partidárias, conquistar novas condições de governabilidade
não parece factível.
Mas se
o Senado consumar o impeachment, ponto para o PSDB e aliados?
Claro
que sim, porém com um senão. A continuidade do governo Temer - ilegítimo,
carente de base social, apoiado em maioria parlamentar desqualificada - acena
para o agravamento da crise, sem nenhuma segurança para os tucanos de que se
darão bem.
Temer
contempla o ideário tucano na área econômica, vale dizer, contempla sua base
social principal, o chamado "mercado". Fora disso, impõe ao PSDB o
desgaste advindo da cumplicidade com o governo recusado interna e
internacionamente.
Nesse
contexto, especula-se sobre a possibilidade de uma Carta aos Brasileiros,
documento em que a presidenta Dilma anunciaria sua concordância com uma saída
política civilizada para o impasse: a realização de plebiscito destinado a
decidir, pelo pronunciamento popular, pela antecipação das eleições
presidenciais.
Se
assim proceder, há uma razoável chance de ser acolhida pelo movimento
democrático em ascensão, incluindo partidos que se batem contra o impeachment e
amplos segmentos dos movimentos sociais e ainda conquistar o apoio de parcelas
dos que vêm guerreando pelo impedimento da presidenta. Inclusive os votos
necessários para que não se consuma o impeachment no Senado.
A
resultante seria um pacto nacional pela preservação da democracia, devolvendo
ao povo a palavra sobre a crise através da soberania do voto.
Fácil?
Obviamente não. Uma obra de engenharia política em terreno minado.
Mas não
antecipadamente impossível. A bola agora pode estar com a presidenta Dilma,
apoiada num consenso entre as correntes partidárias e sociais que desejam a
normalidade democrática.
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