Luciano Siqueira, no Blog de
Jamildo/portal ne10 e no portal Vermelho
Eduardo Cunha perdeu por dois votos na Comissão de Ética da Câmara dos
Deputados. Uma novela que caminha para o fim - após oito meses de manobras e
artimanhas - ou apenas um capítulo de uma sequência ainda imprevisível?
Na Comissão de Ética, foram
decisivos os votos de dois parlamentares antes tidos como pró-Cunha - frutos
diretos da pressão da sociedade e, em parte, das próprias contradições que
emergem da base parlamentar governista.
No meio do caminho, rastros
evidentes de Temer e seu núcleo político.
O presidente interino, na
verdade, vê-se num dilema: ou lava as mãos diante da derrocada de Cunha, que
pode ser cassado, preso e condenado, ou segue manobrando para preservar o
mandato do seu principal aliado e fiador do chamado baixo clero da Câmara,
numericamente de amplo predomínio em sua base de sustentação parlamentar.
Para a consumação da cassação do
mandato de Cunha em plenário serão necessários 257 votos.
Cunha, acuado, ameaça levar
consigo 150 deputados e um senador e dois ministros. Tem preferido não dizer de
público o sentido real dessa ameaça: levaria para o buraco também presidente
interino Michel Temer.
Entrementes, marcado pela ilegitimidade
jurídica e política e enredado num poço de areia movediça, Temer acende uma
vela ao seu Deus (o mercado financeiro) e ao diabo (a sua base partidária e
parlamentar).
Como têm assinalado analistas da
grande mídia que o apóia, ele faz um governo que vai e volta o tempo inteiro,
em desgastante oscilação, enquanto ameaça os trabalhadores e a população mais
pobre com cortes de conquistas e direitos.
Pode um presidente assim tão
ilegítimo, confuso, incoerente e frágil dispensar o apoio de Cunha? Certamente
não.
Concomitantemente, senadores
golpistas pressionam para apressar o rito da Comissão Especial do impeachment,
preocupados temendo que alguns senadores que antes votaram pela admissibilidade
do processo agora possam mudar seu voto e, assim, faltem os 2/3 necessários
para o afastamento definitivo da presidenta Dilma.
Em tais circunstâncias, o
desenlace do affair Cunha se dará sob a influência de três fatores: a pressão
externa, advinda principalmente do movimento democrático que resiste ao golpe;
o crescente embaraço de parte da base governista mais preocupada com as
aparências (PSDB e setores do próprio PMDB) e o receio do próprio Temer de que
se torne mais evidente sua condição de gêmeo xifópago de Eduardo Cunha.
Da lama ainda resta uma
esperança.
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