Luciano
Siqueira, no portal Vermelho e no Blog do Renato
Ainda garoto, chegou-me às mãos de leitor quase
compulsivo um livro desses hoje ditos de autoajuda, de autor americano, se não
me engano, em que numa determinada passagem é recomendado a alguém às voltas
com muitas dificuldades (inclusive sem emprego) botar uma rosa na lapela e ir à
rua como se tudo estivesse bem.Seria uma fórmula para atrair — segundo o autor — boas novas oportunidades.
Isso
jamais me convenceu. — É coisa de americano!, comentei com o amigo que me
emprestara o livro.
No
Brasil de hoje, envolto em múltipla crise - econômica, política e institucional
-, obviamente não é suficiente um cartaz de protesto e fazer de conta que a
luta contra o impeachment já se encerrou, que a presidenta Dilma
inexoravelmente está fora da cena política e que resta preparar a campanha
presidencial de 2018.
Seria o
mesmo que simplesmente por uma rosa na lapela e sair de casa com ares de falso
otimismo.
Pois é
o que ocorre com parte das forças que se batem pela democracia e denunciam o
golpe. Implicitamente assumem a consigna "que cada um cuide de si e nos
reencontraremos depois".
Um erro
político primário.
Subestimação
da gravidade do que ocorre sob o governo interino (que se julga definitivo) de
Temer, que rapidamente desmonta opções estratégicas, políticas públicas,
direitos e conquistas alcançadas pelo povo e pela nação brasileira a partir de
2003.
Sequer
pode haver segurança da permanência da atual legislação eleitoral e partidária.
Ou seja: Temer e sua maioria parlamentar ultraconservadora e fisiológica podem
vir a impor uma reforma política que restrinja mais ainda as regras vigentes,
levantando novos obstáculos às condições de disputa por parte das forças
populares.
Por
exemplo, a proibição de coligações proporcionais e a adoção de uma cláusula de
desempenho exageradamente alta.
Então,
todo gesto exclusivista e prejudicial à construção de uma frente ampla,
suprapartidária e socialmente plural resulta em favorecer, na prática, a
coalizão reacionária que ocupa o governo central.
A
peleja na esfera parlamentar, nas redes sociais e nas ruas não pode deixar
escapar a absoluta necessidade de se combinar firmeza de propósitos com amplitude
e flexibilidade que possibilitem superar o isolamento das forças de esquerda.
Nesse
contexto, a derrota do deputado Rogério Rosso (aliado de Eduardo Cunha e
sorrateiramente ungido por Temer), na disputa pela presidência da Câmara deve
ser valorizada.
Rodrigo
Maia votou pelo impeachment e faz parte da base do governo, porém assume a
presidência da Casa com o compromisso de restabelecer a normalidade legislativa
— o que interessa à atual oposição.
Como
bem nos ensinava João Amazonas, em política nunca se deve colocar sinal de
igualdade entre coisas distintas. Rosso e Maia não são a mesma coisa.
Demais,
há que se perseverar no esforço para conquistar os votos necessários entre
senadores minimamente abertos ao debate, na tentativa de evitar os 2/3
necessários à confirmação do impeachment.
E nas
ruas não se deve confundir a Caravana pela Democracia e iniciativas afins com
campanha eleitoral de alguma corrente política em particular.
Do que
mais se necessita agora é de combatividade e bom senso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário