Luciano
Siqueira
Espelho em elevador dá nisso: a
exposição da vaidade humana, pois é muito comum aquele olhar, de soslaio ou
desinibido, para conferir a própria imagem.
Outro
dia no prédio onde funciona o meu escritório político testemunhei a crise de
identidade, ou de autoimagem, de uma jovem adolescente que foi do térreo ao
décimo segundo andar mirando a si mesma, ajeitando com leves toques o penteado,
ora acolhendo os cabelos revoltos com as duas mãos em concha, ora os assanhando
novamente com as pontas dos dedos. Observada por mim e mais uns três colegas de
viagem, não estava nem aí. Quem quer cultivar a própria beleza não pode se
importar com o que pensam os que lhe flagram em plena labuta.
No
caso, uma bela jovem – morena, estatura mediana, olhos negros,
cabelosencrespados e soltos à altura dos ombros, corpo bem distribuído. Uns
dezessete anos. Insatisfeita, entretanto. Pois após mexer e remexer a
cabeleira, meteu uma fita larga sobre as madeixas mais salientes e, num
movimento brusco, prendeu tudo num feixe só, fez um leve muxoxo e ganhou o
corredor a passos tímidos.
Essa
coisa de autoimagem não é simples. Implica ciência e arte. Cada um que encontre
os atributos nos quais se apoiará ao longo da vida para se aceitar a si mesmo,
sejam quais forem suas referências culturais. Com a autoridade de haver
conquistado o segundo lugar num improvisado concurso de feiura feito por
companheiras do movimento estudantil, em 1968, no pátio da antiga Faculdade de
Filosofia de Pernambuco, tenho cá minhas dicas.
Vejamos.
Suponhamos que o leitor ou leitora não se considere favorecido pela natureza,
não se enquadre nos padrões de beleza consagrados pelo vulgo. Melhor é não
mexer muito na própria carcaça, adotando cabeleira exótica, tatuagens
chamativas ou adereços extravagantes. Faça isso não. Como autoimagem não é
coisa meramente individual, depende de como você imagina que as pessoas lhe
olham – apreciando ou rejeitando -, nesse caso opte por alternativa mais
sensata. Que tal compensar a feiura com uma boa dose de afeto, atenção e
despojada solidariedade? Se puder somar alguma competência no que faz, melhor
ainda.
Vá
em frente que por aí pode se dar bem. Nas relações amorosas, por exemplo. Vez
por outra revistas de amenidades publicam pesquisas dando conta de que tanto
mulheres como homens buscam num possível parceiro antes de tudo sensibilidade,
cumplicidade, compreensão; em seguida prestam atenção às características
físicas. Eis porque belas mulheres se apaixonam por homens feios e homens tidos
como modelos gregos escolhem mulheres feias.
Daí
chegamos à boa e sensata conclusão de que o peso do espelho é muito relativo na
aferição de nossa autoimagem. Afinal, convenhamos, o que há de mais essencial
entre os animais racionais nem sempre está à vista - brota da alma.
Feios
e feias de minha terra, sejamos autoconfiantes e felizes!
Nenhum comentário:
Postar um comentário