Luciano Siqueira, no Blog da Folha
O presidente interino Michel Temer, em encontro com grandes
empresários, declarou o óbvio: que está disposto a continuar adotando medidas
impopulares.
Tão natural quanto o parto no nono mês de gestação!
Isto porque em nenhum momento Temer escondeu a serviço de
que interesses pretende governar.
Assim, os cortes continuados de gastos com programas de
grande alcance social contrastam com as benesses recém ofertadas ao Judiciário
e com anunciada avalanche de liberação de emendas parlamentares destinada a
satisfazer o apetite da sua ampla base parlamentar conservadora e fisiológica.
Concomitantemente, a denominada equipe econômica age com
sofreguidão no sentido de "botar ordem na economia", equilibrando as
contas públicas sem, entretanto, alterar e extorsivo valor da Selic.
Isto significa enquadrar o Brasil plenamente no figurino
neoliberal com o qual os verdadeiros comandantes da economia global — o grande
capital financeiro — administram a crise sistêmica em curso desde 2008.
O lema é: À oligarquia financeira e aos oligopólios, tudo; aos
trabalhadores e ao povo, cada vez menos!
No interino governo Temer, o Brasil é enxergado pelo
binóculo invertido da Avenida Paulista.
Mas falta combinar com a maioria da população, que conforme
atestam pesquisas recentes não apenas rejeita Temer, como nada de bom dele
espera.
Talvez próximo 70% seja a ampla parcela da população que tem
se mantido num misto de perplexidade e receio diante da crise política e institucional
em que está mergulhado país.
Segundo o Instituto Data Popular, as pessoas não compreendem
com clareza o porquê de tanto desmantelo e tamanha instabilidade.
Porém na medida em que conquistas alcançadas nos outros 12
anos justamente pela população mais pobre começam a ser retiradas, parece
lícito supor que essa parcela da população reagirá de alguma forma.
Temer e seu grupo atuam rápido para cumprir na medida exata
os intentos da elite comandada pelo rentismo. Contam com o apoio ativo da
grande mídia e da sua base parlamentar de baixo compromisso público, mas têm em
seus calcanhares as crescentes revelações de casos de corrupção que chegam
muito próximo ao seu gabinete e ameaçam abrir a porta e entrar. E terão
inevitavelmente que enfrentar a resistência popular.
Assim, a reafirmação do caráter abertamente antipopular do
seu interino governo soa como declaração de guerra ao povo brasileiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário