A renúncia do presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha
(PMDB/RJ) é um desses episódios exemplares que distinguem a política praticada
por certos representantes das classes dominantes, daquela feita por políticos
ligados ao povo e aos trabalhadores.
O traço marcante de políticos do naipe de Eduardo Cunha são ações que
procuram esconder sua verdadeira natureza – ocultar, enganar, tergiversar. Ao
contrário dos políticos populares e democráticos, que agem aberta e
publicamente, à vista de todos, sem nada a esconder.
Quais são os objetivos de Eduardo Cunha, decididos, tudo indica,
juntamente com Michel Temer, seu sócio na empreitada golpista, que o recebeu em
segredo, no Palácio do Jaburu, em 26 de julho?
A renúncia de Eduardo Cunha à presidência da Câmara tem, certamente,
dois objetivos ocultos.
Um deles é proteger-se a si próprio. Garantir, se possível, a não
cassação de seu mandato no processo por quebra do decoro parlamentar que corre
contra ele na Câmara dos Deputados. E, com isso, protegê-lo, com o foro
privilegiado, no processo no qual é réu no Supremo Tribunal Federal, acusado de
apropriação de propinas e outros benefícios ilícitos. Dessa maneira Cunha
manteria o mandato de deputado e escaparia do julgamento e da cadeia.
O outro objetivo oculto desta renúncia seria o de dar um verniz de
legitimidade ao governo do impostor Michel Temer. Seria uma maneira de enganar
o país e os brasileiros dando a impressão de que o governo interino estaria se
livrando dos corruptos que articularam o golpe contra a presidenta eleita Dilma
Rousseff.
Esta impressão fica mais forte pois a renúncia aconteceu à pouco mais de
um mês do julgamento do processo de impeachment da presidenta Dilma pelo
Senado.
A renúncia de Cunha faz parte do movimento golpista para convencer os
senadores sobre a normalidade e legalidade do governo interino. E, assim,
atrair e assegurar seus votos a favor do impeachment.
São os dois pesos e duas medidas da política da classe dominante,
difundida como “normal” e “democrática” pela mídia golpista. O afastamento de
Eduardo Cunha - amplamente rejeitado pelos brasileiros como símbolo da
corrupção e do uso da esperteza contra o povo e os trabalhadores - é
apresentado e comemorado por muitos como se fora um avanço que limpa, e
legitima, o processo político.
Os brasileiros merecem comemorar como uma vitória o afastamento de
Eduardo Cunha. É a saída de cena de um personagem que representa o que há de
pior na política brasileira. Não apenas do ponto de vista da falta de
honestidade pessoal. Mas sobretudo pelo ataque que liderou contra os direitos
políticos, econômicos e sociais dos brasileiros, pela submissão aos interesses
das classes dominantes retrógradas e ao imperialismo, pela violência contra a
democracia e a ordem constitucional.
Seu afastamento é, assim, uma vitória. Mas uma vitória tardia e parcial,
que ocorre às vésperas da cassação de seu mandato pelo plenário da Câmara dos
Deputados – vitória previsível que ele tenta evitar ao renunciar à presidência
da Câmara.
Sua renúncia que é apenas a aparência de um movimento para esconder a
verdade pretendida: proteger o golpe, os golpistas e o próprio Eduardo Cunha. E
revelando, mais uma vez, e de forma veemente, a intenção perversa de enganar os
incautos.
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