Todas as trincheiras de luta valem a pena quando a alma não é pequena
Luciano Siqueira,
no Blog da Folha
Em meio à crise que se aprofunda em todas as suas dimensões, sem que haja uma luz visível, cabe lutar em todas as trincheiras para assegurar os instrumentos e o ambiente no qual uma saída há de ser encontrada.
Ou seja,
o ambiente determinado pelas normas democráticas constitucionais, que uma vez
desrespeitadas — como se vê no arbitrário processo de impeachment contra a
presidenta da República -, a busca consistente e equilibrada da retomada do
crescimento econômico e da preservação de direitos e conquistas alcançadas
pelos que sobrevivem do seu trabalho fica comprometida.
Os
chamados Três Poderes da República mostram-se olhar da opinião pública envoltos
em contradições e impasses que os fazem fragilizados diante de seus deveres
constitucionais.
Isto num
perigoso cenário de dispersão, pois “em casa em que falta o pão todos brigam e
ninguém tem razão", como diz a sabedoria popular.
Há
evidentes desencontros e fissuras, tanto entre os agrupamentos ora reunidos em
torno do governo interino de Temer, como no ascendente movimento democrático.
A
sucessão do desmoralizado deputado Eduardo Cunha na presidência da Câmara dos
Deputados o demonstra.
Da
parte do chamado "centrão" e dos seus aliados à direita, vários
pretendentes à presidência da Câmara se digladiam, sem que uma palavra sequer
seja dita em favor do restabelecimento da credibilidade da Casa.
Do lado
das forças hoje na oposição, o risco iminente de se frustrarem as tentativas de
um acordo amplo no sentido de eleger um deputado compromissado com o funcionamento
"normal" da Casa. Quando o PT veta qualquer
deputado que tenha votado pelo impeachment, na prática está renunciando à luta
para evitar que se eleja um aliado de Eduardo de Cunha.
"Marcar
posição" tão somente, numa hora grave como essa é se auto-condenar ao
isolamento que a nada leva.
Concomitantemente,
nas redes e nas ruas a luta contra o impeachment segue. E parte importante das
forças que se batem pela democracia considera justo e oportuno que a presidenta
Dilma assuma, previamente à votação do impeachment pelo Senado, o compromisso
com a realização de um plebiscito que descida pela antecipação das eleições
presidenciais — uma forma possível, nas atuais circunstâncias, de uma solução
democrática para crise.
A
caravana pela democracia que traz ao Recife amanhã o ex-presidente Lula — o maior
líder popular da história recente do Brasil — pode ser um reforço essa luta numa trincheira que jamais pode faltar: a rua.
Um comentário:
Nada deve ser impositivo, mas deve-se procurar a negociação com os arrependidos.
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