A versão, o fato e a História
Luciano Siqueira, no Blog da Folha
Em termos de manipulação da consciência social pode ser. Mas para política séria e consequente não serve. Nem para a História real.
Trava-se hoje no Brasil uma disputa de narrativas acerca da última década e da situação atual pós-impeachment. Uma acirrada luta no terreno das ideias.
Exemplo emblemático está na afirmação de que o país atravessa a maior crise de sua história e que todos os males de que padecemos na atualidade decorrem de erros do PT e da corrupção praticada no âmbito da Petrobras e outras empresas públicas.
Simples assim, se estabelece uma rubrica na qual tudo cabe desde que o alvo seja o PT e a esquerda.
Ora, se ao final do governo Fernando Henrique Cardoso todos os indicadores econômicos eram piores do que quando do impeachment da presidenta Dilma, por que esta crise e não a anterior é a mais pesada de nossa história?
A crise atual é mais grave porque se entrelaça com a crise global — que é sistêmica, estrutural, profunda e sem solução à vista — e, no plano interno, se associa à instabilidade política e ao esgarçamento das instituições.
A transição da ordem neoliberal a um novo projeto nacional de desenvolvimento, iniciada no primeiro governo Lula e interrompida com impeachment de Dilma, sofreu bombardeio mortal — no terreno das ideias e na prática concreta.
Os vencedores de hoje, sob a tutela do chamado “mercado” financeiro e apoiados no conluio midiático-parlamentar-policial-judiciário, sob o biombo "fracasso do governo liderado pelo PT", desmontam avidamente conquistas sociais e direitos alcançados em pouco mais de uma década, fazendo o país retroceder ao figurino neoliberal.
Assim, todo um legado representado por conquistas sem precedentes, como a inclusão social e produtiva de cerca de 40 milhões de brasileiros antes submetidos à extrema pobreza e à miséria; o alargamento das relações democráticas entre governo e sociedade; e afirmação do Brasil como nação soberana na cena internacional, todo esse legado é jogado ao lixo como se nada representasse.
Uma estratégia reacionária que pode funcionar no curto prazo, porém inevitavelmente será desmontada adiante através da resistência de milhões que vivem do seu trabalho ou se encontram em situação de vulnerabilidade, que gradativamente vão tomando consciência do verdadeiro sentido das medidas adotadas pelo governo espúrio de Michel Temer e seu bando.
Desse modo, é lícito supor que as correntes políticas que hoje levam nítida desvantagem na disputa de narrativas e se encontram sob correlação de forças adversa, haverão de resistir, de se reaglutinarem em torno de uma nova plataforma e retomar a iniciativa adiante.
A trajetória progressista da sociedade humana historicamente não de se dá em linha reta, está sujeita a avanços e a retrocessos. No Brasil, da escuridão de agora surgirão as luzes de um futuro novo ciclo de transformações em favor da nação e do povo.
Luciano Siqueira, no Blog da Folha
Em termos de manipulação da consciência social pode ser. Mas para política séria e consequente não serve. Nem para a História real.
Trava-se hoje no Brasil uma disputa de narrativas acerca da última década e da situação atual pós-impeachment. Uma acirrada luta no terreno das ideias.
Exemplo emblemático está na afirmação de que o país atravessa a maior crise de sua história e que todos os males de que padecemos na atualidade decorrem de erros do PT e da corrupção praticada no âmbito da Petrobras e outras empresas públicas.
Simples assim, se estabelece uma rubrica na qual tudo cabe desde que o alvo seja o PT e a esquerda.
Ora, se ao final do governo Fernando Henrique Cardoso todos os indicadores econômicos eram piores do que quando do impeachment da presidenta Dilma, por que esta crise e não a anterior é a mais pesada de nossa história?
A crise atual é mais grave porque se entrelaça com a crise global — que é sistêmica, estrutural, profunda e sem solução à vista — e, no plano interno, se associa à instabilidade política e ao esgarçamento das instituições.
A transição da ordem neoliberal a um novo projeto nacional de desenvolvimento, iniciada no primeiro governo Lula e interrompida com impeachment de Dilma, sofreu bombardeio mortal — no terreno das ideias e na prática concreta.
Os vencedores de hoje, sob a tutela do chamado “mercado” financeiro e apoiados no conluio midiático-parlamentar-policial-judiciário, sob o biombo "fracasso do governo liderado pelo PT", desmontam avidamente conquistas sociais e direitos alcançados em pouco mais de uma década, fazendo o país retroceder ao figurino neoliberal.
Assim, todo um legado representado por conquistas sem precedentes, como a inclusão social e produtiva de cerca de 40 milhões de brasileiros antes submetidos à extrema pobreza e à miséria; o alargamento das relações democráticas entre governo e sociedade; e afirmação do Brasil como nação soberana na cena internacional, todo esse legado é jogado ao lixo como se nada representasse.
Uma estratégia reacionária que pode funcionar no curto prazo, porém inevitavelmente será desmontada adiante através da resistência de milhões que vivem do seu trabalho ou se encontram em situação de vulnerabilidade, que gradativamente vão tomando consciência do verdadeiro sentido das medidas adotadas pelo governo espúrio de Michel Temer e seu bando.
Desse modo, é lícito supor que as correntes políticas que hoje levam nítida desvantagem na disputa de narrativas e se encontram sob correlação de forças adversa, haverão de resistir, de se reaglutinarem em torno de uma nova plataforma e retomar a iniciativa adiante.
A trajetória progressista da sociedade humana historicamente não de se dá em linha reta, está sujeita a avanços e a retrocessos. No Brasil, da escuridão de agora surgirão as luzes de um futuro novo ciclo de transformações em favor da nação e do povo.
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democracia e a pluralidade de opiniões http://migre.me/vfkk2
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