Aos vencedores, as
batatas; aos lutadores, a História!
Nilson
Vellazquez, em seu blog
A magistral obra do escritor realista Machado de
Assis, Quincas Borba, conta a história de Rubião, herdeiro do filósofo Quincas
Borba, que, entre outras coisas houvera deixado um cachorro e um ensinamento
filosófico ao qual a personagem denominava "Humanitismo", traduzida
na seguinte frase: "Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as
batatas".
O "Humanitismo" que a personagem
defendia, consistia, entre outras coisas, na certeza de que o vencedor sempre
será o mais forte, ou que, mesmo com uma vitória momentânea, os prêmios, muitas
vezes, podem ser apenas mais combustíveis para continuar lutando e/ou vencendo.
Ainda conforme Quincas, "a paz, nesse caso, é a destruição, a guerra é a
conservação".
O que Machado de Assis, ao criar esse romance, não
imaginaria é que o gosto das batatas dos tempos atuais fosse se tornar tão
amargo para os vencedores. Afinal de contas, que sabor deverá ter a vitória
obtida da forma que os golpistas brasileiros estão tendo neste momento?
Com certeza, o sabor das batatas que os golpistas
obtiveram recentemente, pelo menos, deve ser melhor do que o gosto amargo da
derrota que as forças de esquerda vem sofrendo desde 2014 no Brasil, apesar de
ter conquistado, nas urnas, o direito de conduzir os rumos do país por mais 4
anos, interrompidos de maneira drástica pelas forças mais conservadoras do
país.
No entanto, ao sabor amargo da derrota, juntam-se
anos de lutas travadas pelas forças progressistas no país. Vitórias e derrotas
- mais estas do que aquelas - marcaram a existência das forças que lutam por
soberania nacional, antes mesmo do Brasil se tornar uma República, mas sobretudo
depois de ter-se tornado e, ainda mais pós Revolução de 30.
Nesse período de República no país, várias foram as
gerações que tiveram de resistir a uma maneira brutal de exercício da hegemonia
econômica e ideológica praticado pelas forças dirigentes do país.
Tivemos que conviver com duas ditaduras, com
diversas tentativas - e realizações - de golpes, mas que sempre tiveram, mesmo
nos momentos mais difíceis, a marca indelével da resistência e da persistência
na luta pela democracia e soberania nacional.
Esses lutadores que por aqui passaram, incluindo-se
aí todos os que derramaram seu sangue e viram suas vidas desmoronarem, devemos
uma atuação tão corajosa quanto. Nos tempos de hoje, acentuados pela
intolerância de parte considerável da classe trabalhadora, a resistência deverá
ser a nossa maior forma de lutar.
Isso significa que, num período histórico em que
houveram pouquíssimos espasmos de democracia no país, cada geração, com sua
particularidade soube conduzir a resistência das forças populares e de esquerda
do país. Cabe, portanto, a esta geração de militantes, dirigentes e demais
lideranças protagonizarem o momento de sua geração e liderar a resistência,
retornando a um maior diálogo com a população no geral, sempre no sentido de
deslindar a essência dos fenômenos históricos e atuais.
O resultado do primeiro turno das eleições
municipais é mais um dado de que o período não será fácil para a esquerda no
país, obrigada, agora, além da defensiva estratégica, uma defensiva tática,
cujos efeitos ainda serão sentidos a médio prazo.
No entanto, às forças progressistas cabe honrar a
luta de todos aqueles que foram e que lutaram para que vivêssemos, mesmo por
pouco tempo, períodos de verdadeiras conquistas sociais que não podem ser
desmoronadas de uma hora pra outra. Tudo isso precisa ser realizado com ânimo e
disposição para a luta, pois a o julgamento da história, este sim é implacável.
Diante disso, a primeira atitude deve ser a de não se esconder, de não se
envergonhar de tudo o que construímos nesse momento, pois como disse Darcy
Ribeiro, "fracassei em tudo na vida. Tentei alfabetizar as crianças
brasileiras, não consegui. Tentei salvar os índios, não consegui. Tentei fazer
uma universidade séria e fracassei. Tentei fazer o Brasil desenvolver-se
autonomamente e fracassei. Mas os fracassos são minhas vitórias. Eu detestaria
estar no lugar de quem me venceu."
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