Bob Dylan e a esquerda
José Carlos Ruy, portal Vermelho
Bob Dylan foi
anunciado na quinta-feira (13) como o Nobel de Literatura de 2016. Ao
mencioná-lo, Sara Danius, da Academia Sueca, referiu-se a dois ilustres e
antigos autores de textos que podiam ter acompanhamento musical: os gregos
Homero, que teria vivido no século 8 a.C, a quem é atribuída a autoria dos
poemas épicos Iliada e Odisséia, e a poetisa Safo, que viveu no século 7 a.C.)
e autora de poemas dos quais se conhecem, hoje, inúmeros fragmentos e apenas um
completo.
Esta referência a autores cuja distância no tempo é medida por milênios
deixou de lado outra, mais próxima de nós, que a Academia também poderia ter
citado: os autores que em nosso tempo moram nas periferias das grandes cidades
e se dedicam ao hip-hop, mas aí seria pedir demais para aquele ambiente tão
seleto...
De todo modo, a Academia Sueca homenageou, ao escolher Bob Dylan,
aqueles que unem poesia e música para contar os problemas que vivem (políticos,
existenciais, amorosos etc, etc, etc.).
Ainda mais no caso de Bob Dylan, que despertou para a música ouvindo um
cantor e compositor visceralmente ligado à luta dos trabalhadores – Woody
Guthrie, o cantor que foi ligado aos socialistas e comunistas até o momento em
que saiu da vida, em 1967. Que se declarou filiado ao Partido Comunista dos EUA
e usou sua arte, sua escrita e sua música para denunciar as mazelas do
capitalismo.
Foi o herói da juventude de Bob Dylan, que se tornou seu amigo em 1961 e
acompanhou até o final da vida com a convicção de que seria como ele. Escolha
que reconheceu a declarar: “Eu disse a mim que seria o maior discípulo de
Guthrie". Dylan se tornou de fato num grande continuador de Woody Guthrie,
aquele em cuja guitarra estava escrito: "This machine kills fascists"
("Esta máquina mata fascistas").
A Academia Sueca poderia ter lembrado também da grande amiga, e namorada
na juventude, de Bob Dylan, a cantora Joan Baez, que usou sua voz para cantar e
denunciar a violência da repressão capitalista contra os trabalhadores. Ela é a
cantora da memorável Joe Hill, que recorda a violência contra o
sindicalista, cantor e compositor condenado à morte nos EUA e executado em
1915.
Bob Dylan está vinculado a esta tradição de luta. Na década de 1960 o
hino da campanha pelos direitos civis foi a canção de sua autoria, que ficou
clássica,Blowin’in the Wind. Ele usa sua música para cantar a
dignidade humana, a luta contra a guerra, a opressão, o preconceito, a
barbárie.
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