As
eleições para os comunistas em tempos de golpe
Nilson Vellazquez,
em seu blog
O golpe realizado pelas forças conservadoras
do nosso país, mais do que atacar a democracia e o Estado Democrático de
Direito, ataca profundamente a subjetividade, o ânimo e a vontade de ver
realizadas, através do voto, as melhorias que as pessoas interessadas por um
futuro digno do nosso país sempre almejaram. Isso porque o golpe ataca
diretamente o acúmulo institucional que a esquerda e as forças progressistas
alcançaram nos últimos tempos.
O valor dessa disputa institucional sempre
foi questionado por setores da esquerda nesses 13 anos de conquistas por que
passamos. Vários não entenderam a real profundidade da mudança que, mesmo lenta
em determinados aspectos, estava sendo realizada através da institucionalidade,
por dentro da democracia burguesa e através do voto.
Em que pese os erros acumulados nesse tempo,
sobretudo no que diz respeito à educação das massas, ao aspecto da renovação de
certezas existentes na superestrutura político-ideológica e um certo
'esvaziamento' de determinados setores dos movimentos sociais, além, é claro do
'encantamento' da força dirigente com as estruturas de poder, é um erro grave
avaliar que o fracasso recente está relacionado a "exagero de disputa
institucional". Muito pelo contrário. Se é possível - o que não acredito muito
ser - creditar a algumas poucas palavras alguns dos motivos dos erros, um deles
é, com certeza, a deficiência da realização de amplitude e do exercício da
hegemonia política. Foi, e ainda é, nas condições históricas atuais do nosso
país, através do voto e da não desejada aliança com setores de centro,
conservadores e até reacionários, que as mudanças foram, são e serão
realizadas, pelo menos num futuro próximo e médio.
Por isso, ao ver o debate em torno das
eleições municipais, em que o cenário real, concreto é o de um varrimento da
esquerda brasileira, um verdadeiro enxovalhamento, com prisões de nossos
líderes sendo planejadas e executadas, com a ofensiva midiática, agora,
tentando fazer crer que medidas regressivas adotadas pelo governo usurpador farão
bem ao país, é preciso entender que nossa luta é - em cenário mais amplo de
defensiva estratégica, e agora tática - lutar pela sobrevivência. Nesse
sentido, a luta pela sobrevivência faz-se até mais amplamente, já que, para os
comunistas essa luta existe há pelo menos 100 anos; mas falo dos mais amplos
setores da esquerda, mesmo aqueles que não se enxergam nesse risco e não
percebem a possibilidade de simplesmente deixarem de existir.
Talvez por não entenderem isso, ainda colocam
em suas pautas diárias - entre líderes e militantes - o questionamento às
alianças praticadas pelas forças políticas, em especial pelos comunistas,
esquecendo que o golpe foi dado nessa seara, na institucionalidade que nos
relegou a um isolamento grave, impossibilitados de diálogo com outras forças
políticas que não fossem as nossas.
Diante desse cenário, de luta pela
sobrevivência, os comunistas não se furtam de buscar alianças com os
diferentes, num gesto claro de buscar sair do isolamento que, em grande parte,
deve-se às insuficiências da força hegemônica desses últimos tempos, pela qual
optamos por pagar o preço juntos, assim como as conquistas, mas que, no
entanto, a depender dela, os comunistas talvez nem pudesse mais disputar
eleições com sua legenda, já que foram claramente a favor de medidas
restritivas como a cláusula de barreira.
O que fica claro para os comunistas, na
análise concreta da realidade concreta, é que, no estágio atual da luta de
classes no Brasil, não se logram conquistas reais para a população sem obter
êxito eleitoral. A revolução não será obra da boa vontade de homens e mulheres,
mas resultado da real correlação de forças e do curso da história, do acúmulo
de forças por parte dos setores progressistas e de um real desenvolvimento
econômico e social de nosso país, a começar pelas cidades.
Por isso, não será agora que os comunistas
fugirão do desafio de encarar mais uma eleição, mesmo em cenário adverso, sob
ataques da direita e dos amigos da esquerda, realizarão, esta semana, mais um
vitorioso episódio de sua história, exercitando a rigidez de seus princípios e
a flexibilidade da tática, dialogando com os diferentes, pois não se faz
alianças apenas entre os iguais. A história comprova isso.
Os comunistas estão acostumados, Brasil, em
seus mais de 90 anos a fazer sacrifícios em torno da manutenção da vida de
nossa legenda, combatida por esquerdistas, fascistas e neoliberais. A história
não tem espaço para análises moralistas, oportunistas e fracas. Como diria
Lênin, "é preciso sonhar, mas com a condição de crer em nossos sonho, de
observar com atenção a vida real, de confrontar a observação com nosso sonho,
de realizar escrupulosamente nossa fantasia". E é só assim, com os pés
fincados na realidade concreta que serão realizadas as mudanças que a
humanidade sonha e precisa, por dias de sol e socialismo e cidades mais
humanas, vamos à luta!
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