Eleições 2016: Recado que nada diz
Marcos Coimbra,
Carta Capital
Inútil
buscar tendências claras nos resultados do pleito municipal. Importa é saber
aonde o medo a Lula levará o aparato policial-judicial
É fato
que as urnas “mandam recados”. Na democracia, é através delas que o universo do eleitorado se exprime, simultaneamente e a respeito das mesmas
questões. Há outras formas de participação e expressão, mas nenhuma possui
essas características.
As urnas
registram o pronunciamento de um determinado eleitorado em determinado momento.
Como fica evidente nos referendos: convocados a dizer se querem, por exemplo,
que uma proposta de lei seja aprovada ou rejeitada, os eleitores respondem
“sim” ou “não”. Sua mensagem é indiscutível e ninguém precisa decifrá-la.
Mas quando
diferentes eleitorados se manifestam a respeito de escolhas diferentes, faz
sentido procurar um significado único?
Certamente que não. Cada eleitorado manda um “recado” específico, por estar
diante de uma escolha específica.
O último
que o conjunto do eleitorado brasileiro enviou foi em 26 de outubro de 2014,
afirmando que preferia Dilma Rousseff (e o que ela representava) a Aécio Neves
(e o que ele representava). Passado um ano e meio, o sistema político resolveu desprezá-lo, mas
esta é outra história.
Naquela mesma eleição, os eleitores de
São Paulo enviaram um “recado” sobre o que desejavam na administração estadual,
votando pela permanência do governador. Nos outros 25 estados e no Distrito
Federal, decisões análogas. No Rio de Janeiro, prevaleceu a continuidade, em
Minas Gerais, a mudança, e assim por diante. Em cada um, eleitorados com
características próprias reagiram a cenários políticos específicos.
Em diversos
lugares, o “recado” da eleição presidencial não coincidiu com o da escolha
estadual. No cômputo final, Dilma saiu-se melhor em 14 estados, e em três
venceram candidatos a governador que lhe faziam oposição, enquanto Aécio foi
vitorioso em 13, dos quais sete foram conquistados por partidos que não o
apoiavam. Exemplificando: no Acre, o tucano venceu para presidente e um petista
para governador; no Pará, o inverso, Dilma para o Planalto e um peessedebista
para o governo estadual.
Se tais
dissonâncias entre “recados” nacionais e estaduais são frequentes, embora
sejam, às vezes, estranhas, o que extrair da algaravia das eleições municipais?
Como encontrar o sentido do que as urnas dizem quando não lidamos com um único
eleitorado nacional ou 27 eleitorados estaduais, mas com 5.570 eleitorados
locais diferentes?
Não é
apenas no tocante aos eleitores que os municípios diferem. Também a oferta que
o sistema político apresenta pode variar imensamente. Ao fazer a contabilidade
dos partidos “vencedores” e “perdedores” na eleição que acaba de ocorrer, vale
lembrar que o PMDB de Michel Temer esteve coligado ao PT de Dilma em 1.260
municípios, que o PSDB e o PT apoiaram o mesmo candidato a prefeito em 734
cidades, e que os petistas e os ex-pefelistas do DEM marcharam juntos em 723
eleições locais.
As eleições municipais de 2016 foram iguais a todas no fundamental: os eleitores
participaram delas pensando, acima de tudo, em suas cidades. Sempre há
exceções, de candidatos que vencem ou perdem por fatores supramunicipais, mas é
necessário cautela ao identificá-los. Algo que, visto de longe, pode parecer
que confirma a “nacionalização”, talvez não seja mais que uma regra
local.
Tome-se o
caso de São Paulo, que costuma ser tratado como se de lá viesse o “recado” mais
eloquente de uma eleição municipal. A derrota de Fernando Haddad pode ser prova
inequívoca da “crise do PT”, como tantos
disseram, mas pode também demonstrar a dificuldade de qualquer prefeito,
independentemente do partido, reeleger-se ou fazer seu sucessor na cidade.
Nos últimos
20 anos, somente Gilberto Kassab conseguiu tal proeza, mas em condições especiais, pois
exerceu o primeiro mandato por apenas 18 meses antes de se candidatar ao
segundo, o que o poupou do desgaste do tempo.
As eleições
para prefeito continuam no segundo turno em 55 cidades. Dia 30, depois da
apuração, voltaremos a escutar a mesma cantilena, de que “o PT sumiu”, “o PSDB
cresceu”, “o PMDB continua grande” e por aí vai.
Daqui a
dois anos, no entanto, quando chegarem as eleições que efetivamente contam para
os destinos do País, ninguém nem sequer se recordará dessas conversas.
Relevantes são outras coisas: aonde o medo a Lula levará seus inimigos no
aparato judicial-policial? O que os governistas farão com o fardo da impopularidade de Temer? A extrema-direita
disputará com candidato próprio? Uma nova esquerda estará madura?
As urnas de
2016 têm pouquíssimo a revelar a respeito do que é importante.
Leia também “Variações táticas na
campanha eleitoral” http://migre.me/vhyid
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