Drama brasileiro
inserido na crise mundial
Luciano
Siqueira, no Blog de Jamildo/portal ne10
Olhar apenas a parte e subestimar ou desconhecer o todo –
essa expressão comum da análise distorcida da realidade – é elemento presente
na narrativa dos que promoveram o impeachment e persiste em meio aos crescentes
embaraços do governo Temer diante da impossibilidade de entregar o que prometeu.
Antes, todas as agruras da economia brasileira decorriam supostamente
de erros da presidenta Dilma e do seu governo, então submetido a uma análise
unilateral, superficial e tendenciosa. Quase nenhuma palavra sobre a crise
global na qual o Brasil estava e continua inserido.
Agora, uma cantilena que tem como alvo políticas sociais
básicas e distributivas, apontadas como causa exclusiva do desequilíbrio das
contas públicas, oculta a sangria da poupança nacional decorrente de juros
estratosféricos da dívida pública, que de 2003 até hoje, se traduz numa transferência de R$ 3 trilhões (em
valores atualizados) aos bancos privados!
Quando até o
ex-presidente do Banco Central no governo FHC Armínio Fraga, um dos arautos do
figurino neoliberal e porta-voz credenciado do mercado financeiro, já reconhece
de público sua frustração diante dos atrapalhados seis meses de governo Temer,
as coisas não vão nada bem.
Vão muito mal.
Não apenas pela incompetência de Temer e seu grupo, mais ainda porque a crise
brasileira é parte indissociável da crise global, ainda que tenhamos cá nossas peculiaridades.
E evolui num
contexto mundial – como bem assinala em artigo recente o presidente da Fundação
Maurício Grabois, Renato Rabelo – onde se destacam três tendências fundamentais:
“1) Decomposição estrutural
relativa da hegemonia unipolar dos Estados Unidos, com crescente
multipolarização do sistema de relações internacionais e a emergência de novos
pólos de poder, que não compunham o núcleo central; 2) Grande crise sistêmica
do capitalismo, desde 2008, mais profunda do que a de 1929, ainda sem superação
à vista, prevendo-se ainda longo período de incertezas; 3) Crescimento
gigantesco das forças produtivas, a serviço de sociedades cada vez mais
desiguais, culminando na denominada Indústria 4.0, ou a ‘quarta revolução
industrial’.”
As
falas de Temer e do ministro Henrique Meirelles, dias atrás, no reformado (para
dar larga predominância às forças do “mercado”) Conselho Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social, são uma mostra eloquente de uma dupla de mediocridade dos
atuais governantes: a miopia diante da gravidade dos fenômenos que incidem
sobre a nossa economia; e o compromisso quase que exclusivo com o sistema
financeiro.
Aos
bancos e aos senhores da usura, tudo! Às alternativas antirecessivas e às
políticas sociais compensatórias e inclusivas, nada!
Assim,
não demorará muito o Brasil poderá se converter numa Grécia sul americana.
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