A RECEITA DE 1898 E
A REAÇÃO POPULAR
Nagib Jorge Neto*
As greves, os protestos - do
início do século 20 - eram consequência das medidas para combater o déficit
orçamentário, crise cambial, inflação e dívida externa adotadas em 1898 no
governo de Prudente de Morais; Ele fez um acordo com os Rothschild, banqueiros
oficiais do Brasil, para pagar os juros da dívida, então impagável, segundo
José Murilo de Carvalho. (Aconteceu Há Um Século, Folha de São Paulo,
1988).
Nos termos do acordo, o
pagamento do principal ficava adiado para 1911, mas em troca o governo
brasileiro hipotecava as rendas das alfândegas, teria de valorizar o mil-réis,
cortar gastos públicos, demitir servidores, reduzir despesas com inativos. Era
a receita para recuperar a confiança dos banqueiros e investidores
internacionais no país e trazer de volta os capitais externos. .
Assim o presidente e o ministro
Joaquim Murtinho, crítico da interferência do Estado na economia, reduziram as
obras públicas, arrendaram as ferrovias e decidiram criar novos impostos,
inclusive o do selo. Com apoio dos Governadores, a domesticação do Congresso -
observa José Murilo - foi instaurada a “pax oligárquica”, na opinião do
sociólogo Fernando Henrique Cardoso, em artigo de 1975, da obra que ele renegou
e pediu para esquecer.
Daí houve falências no
comércio, na indústria, nos bancos, em setores da agricultura, seguidas do
inevitável desemprego, enquanto o governo atingia boa parte dos seus objetivos.
Então cresceu a arrecadação, enquanto o industrial Vieira Souto dizia que
Murtinho salvara o câmbio, mas reduzira o país à miséria.
Nesse quadro, em meio aos
conflitos, Recife avançou - a luz elétrica chegara, o Porto do Recife recebia
navios, havia automóvel, trens, “a cidade começava a ter pressa, a querer
encurtar as distâncias” e ia ficando a “saudade dos bondes vagarosos, simples,
puxados a burros”, segundo Antônio Paulo Rezende, autor de (DES) ENCANTOS
MODERNOS.
Então havia a beleza dos
maracatus, das maxambombas (primeiro trem da América do Sul), das serenatas,
modinhas, enfim da cantiga de acordar donzela, amenizando o clima de confronto,
greves e passeatas: Acorda Adalgisa/ Que
a noite desliza/ Vem ver o luar. Na fase a perspectiva do moderno, a busca de
concretizar antigos sonhos, consagrar os ideais de desenvolvimento e justiça
social. As forças sociais avançavam e era menor o temor das idéias do Manifesto
Comunista, de Marx e Engels, pois elas questionavam a economia, as relações de
trabalho, em quase todo o Ocidente. Outros tempos, sonhos, e a disposição de
evitar as frustrações, os lamentos.
*Nagib Jorge Neto é jornalista e escritor.
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