De fraque e cartola, porém com
os pés descalços
Luciano
Siqueira, no Blog de Jamildo/portal ne10
A imagem é
do meu inesquecível avô Quincas, que viveu do fim do século 19 a meados do
século 20. Quando alguém exagerava na mentira, ele sapecava:
- De que
adianta se apresentar de fraque e cartola se os pés estão descalços!
Na disputa
de narrativas que se instalou no pós-impeachment e corre solta um dos temas
centrais é a fantasiosa recuperação da economia:
- O
mercado dá sinais de confiança, repete o ministro Meirelles.
- O grau
de confiança do consumidor tende a aumentar, afirma em tom pouco convincente um
conhecido comentarista econômico de rabo preso com o tal mercado.
Na verdade
– e aí saem de cena o fraque e a cartola e têm lugar os pés descalços -, os
indicadores são outros.
Segundo o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o desemprego alcançou
11,8% da População Economicamente Ativa (PEA), e o poder de compra das famílias
brasileiras, que vinha crescendo de 2003 até 2014, caiu 2,8% em 2015 e deve se
retrair em 7% em 2016, o que corresponde a quase 10% em dois anos.
A queda
das atividades econômicas deve alcançar -3,4% em 2016. Em consequência, a
arrecadação está despenca, diminuindo 8,27%, em setembro, em comparação a
2015.
Eis a
verdade nua e crua. Para além da narrativa oficial.
E não há
como esperar coisa melhor. Basta a sinalização negativa da PEC 241/55, que além
de restringir gastos essenciais com a educação e a saúde e programas sociais,
tem claro viés recessivo.
Enquadra-se
no figurino experimentado na Zona do Euro, por imposição da chamada Troika – a
Comissão Econômica Europeia, o FMI e o Banco Central Europeu. Com resultados
dramaticamente negativos, sobretudo na Grécia.
Então,
muito mais do que a cantilena oficial, reverberada pela grande mídia, pesa a
realidade concreta, o chamado bolso do assalariado.
Daí a
absoluta necessidade de se aprofundar o debate acerca dos rumos do País,
buscando respostas eficazes para a crise.
O que não
é fácil na conjuntura atual de franco domínio conservador e de imposição do discurso
único neoliberal.
A
resistência popular ao que está estabelecido, embora crescente, ainda não
produziu uma plataforma capaz de unir todas as forças hoje postadas na oposição
e atrair insatisfeitos dos mais diversos matizes. Desafio a ser arrostado já,
antecedendo o próximo pleito presidencial e, em certo sentido, mesmo à margem
dele.
Um embate
político de grande envergadura, que marcará a cena política brasileira nos
próximos anos.
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