Insensatos e gananciosos
Luciano Siqueira
Uma espécie de nau dos insensatos. Ou
dos gananciosos, enredados na especulação financeira, que fazem vista grossa
para o verdadeiro drama da nação.
Nos últimos dias, diante dos
desencontros e impasses em que se meteu a equipe econômica sob a liderança do ex-supeministro
Paulo Guedes, setores da elite dominante e da grande mídia desenvolvem enorme
pressão em favor da agenda ultraliberal.
Porque para essa gente o povo é
considerado apenas nas estatísticas, para medir flutuações do mercado.
Temem o que venha acontecer fruto da
incompetência do presidente e de um ministério da Economia desfalcado de quadros
considerados importantes - Joaquim
Levy (BNDES), Marcos Cintra (Receita Federal), Mansueto Almeida (Tesouro
Nacional), Marcos Troyjo (Comércio Exterior), Rubem Novaes (Banco do Brasil),
Caio Megale (Fazenda), Salim Mattar (desestatização) e Paulo Uebel (desburocratização).
É patética a cena exibida pelas redes
de TV em que o presidente da República e os presidentes do Senado e da Câmara
repetem de público a ladainha das reformas neoliberais e do respeito ao teto de
gastos.
A realidade é dura e crua, por maior
que seja a insensibilidade da horda ultraliberal.
Aqui e mundo afora.
A pandemia do novo coronavírus
escancarou a profundidade da crise do sistema imperante no mundo e atingiu
dramaticamente os países cujas economias já viviam um quadro de recessão e de
acentuada vulnerabilidade e dependência dos humores externos.
No Brasil a pandemia segue sem
perspectivas imediatas de declínio, seja pela dimensão continental do nosso
território e pelas acentuadas diversidades regionais, seja pelo fosso imenso, criado
pelo presidente da República, entre o governo central e governos estaduais e
prefeituras.
Na dimensão econômica e social da
crise, em que a exclusão acelerada de milhões no mercado formal de trabalho
pode se converter, em médio prazo, em portentosa bomba de efeito retardado, dá-se
essa impertinência entre a minoria que teima em rezar o credo fiscalista em detrimento
das necessidades e aspirações da imensa maioria.
Na ampla e diversificada rede
oposicionista que espontaneamente se alastra, é item nodal de um plano
emergencial para tirar o país da crise o investimento pesado de recursos
estatais para reaquecer as atividades econômicas, através da emissão de pedidos
públicos com garantia do Banco Central.
Essa tem sido a receita da quase
totalidade das economias do mundo, inclusive onde os governantes são
inequivocamente adeptos das políticas ultraliberais.
O déficit público fica para solução
posterior, pois agora trata-se de salvar vidas, empresas e postos de trabalho.
O recuo tático temporário de Bolsonaro
— desde que se viu acuado pela confluência da escalada das mortes pela COVID-19
com o agravamento da crise econômica e social e a revelação das relações espúrias
de seus familiares mais próximos com contraventores associados a milícias — tem
como ingrediente a tentativa de arregimentar apoio a nefasta agenda econômica.
Aparentemente vem conseguindo. E isso o
permite respirar um pouco antes de retomar a sua estratégia de provocações de
natureza golpista.
Ao multifacetado campo oposicionista
cabe a resistência.
A realidade concreta precisa falar mais
alto do que as vozes da conspirata de banqueiros e especuladores contra nação
do povo brasileiro.
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