País vive dilema na escolha da melhor vacina anticovid
Valor
Econômico
O cenário de disputa entre os países
tende a se acirrar, em meio a incertezas, inclusive no Brasil, sobre qual é a
melhor aposta para garantir acesso mais rápido a uma futura vacina contra a
covid-19, que continua matando milhares de pessoas por dia. A questão que
vários países enfrentam é se têm mais chances sozinhos ou se juntando a outros
parceiros.
Alguns países têm mais recursos para
apostar de forma isolada. Os EUA, com Donald Trump focando no “America First”,
já fez vários contratos de compra com laboratórios diferentes. A China está
desenvolvendo sua própria vacina. Os europeus organizam um mecanismo regional
de compra do produto.
De seu lado, o governo de Jair
Bolsonaro, que não cessou de minimizar a pandemia, precisará decidir se vale a
pena jogar todas as fichas em acordos bilaterais com grupos farmacêuticos que
envolvam transferência de tecnologia. Ou se junta esforço com outras nações num
“pool financeiro” que apostará em nove vacinas em desenvolvimento, através do
Gavi Aliança (Aliança Global para Vacinas e Imunização), mas sem garantia de
poder produzir a vacina no território brasileiro.
O cenário é incerto para o “Covid-19
Global Access Facility”, como é chamado o mecanismo do Gavi. Está se
aproximando a data para tomada de decisões, sem que haja clareza sobre quantos
países vão participar e também sobre o próprio custo da vacina. No momento,
discutem a iniciativa cerca de 80 países emergentes e desenvolvidos, que
pagarão pela vacina, e 92 países de renda baixa ou média que vão receber as
doses pagas por doadores.
Os europeus chegaram a reclamar do
custo inicial, estimado em US$ 40 por dose. Depois o preço foi estimado em US$
20. E na ultima rodada de apresentação aos países, o Gavi previu preço em torno
de US$ 8,70 por dose (pode ficar em quase US$ 11, incluindo bônus de US$ 1,50
pela velocidade na produção e US$ 0,25 de custo operacional por dose). A
fórmula definida pelo Gavi é de que os países se comprometam a comprar um
volume de doses suficiente para imunizar 20% de sua população. A ideia é de
vacinar prioritariamente profissionais da saúde, pessoas acima de 65 anos e
grupos de maior risco sofrendo de diabete, hipertensão, câncer etc. A primeira
rodada de distribuição garante doses para 3% da população de cada país
participante. Nas etapas seguintes, à medida que as doses forem sendo
distribuídas, os países vão ter uma ideia mais clara do preço efetivo, podendo
ficar acima ou abaixo dos US$ 8,70 estimados no momento.
No caso do Brasil, teria de se
comprometer com compra de vacinas para 42 milhões de pessoas, totalizando 84
milhões de doses (duas para cada pessoa). Pelo preço previsto hoje, o país
deveria pagar US$ 902 milhões (R$ 5 bilhões), metade do valor estimado
anteriormente.
O país terá de pagar 15% antecipado,
ou seja, US$ 135 milhões (R$ 762 milhões), se aderir à iniciativa global do
Gavi. O plano do Gavi era de que os países interessados deveriam assinar até o
dia 31 deste mês o contrato individual para participar do “pool financeiro” que
aposta em nove vacinas em desenvolvimento. Há poucos dias, porém, o Gavi
informou aos países que estava aprontando um documento diferente.
A ideia agora é de primeiro os países
assinarem uma carta de “confirmação de intenção” até o fim do mês. Depois o
Gavi informará as novas datas para o contrato de adesão e para o pagamento dos
15% iniciais. No Brasil, um dos países mais atingidos pela pandemia,
inicialmente o governo Bolsonaro ignorou a iniciativa coletiva do Gavi para
levar laboratórios a desenvolver vacinas mais rapidamente e garantir acesso ao
produto. Depois, o Ministério da Saúde anunciou que o país participaria das
iniciativas globais para assegurar o acesso à vacina. Mais recentemente, porém,
o entusiasmo parece ter voltado a diminuir. Fontes de Brasília argumentam que o
volume de dinheiro é importante, haveria várias incertezas sobre os termos dos
contratos com o Gavi, será preciso examinar mais as condições da iniciativa
global, como ela vai funcionar efetivamente etc. E só depois tomar a decisão
final sobre qual a melhor aposta pelo país. O Brasil já assinou acordos
envolvendo duas vacinas. Uma desenvolvida pela Universidade de Oxford com o
grupo farmacêutico AstraZeneca, em parceria com a Fiocruz. A outra, pela
chinesa Sinovac, em acordo com o Butantã, em São Paulo. Além disso, a Rússia
quer testar e produzir sua vacina Sputnik V no Brasil.
O governo dos EUA, que não tem
intenção de participar da iniciativa global do Gavi, já gastou ao menos US$
10,9 bilhões no desenvolvimento da vacina, com mais de 800 milhões de doses
encomendadas a laboratórios como Moderna, Johnson & Johnson, Novavax,
Pfizer, Sanofi e AstraZeneca.
A União Européia assinou com
AstraZeneca acordo para comprar 300 milhões de doses da vacina que o
laboratório tenta desenvolver. França, Alemanha, Itália e Holanda também já se
entenderam diretamente com AstraZeneca para o fornecimento acelerado de doses.
Um fundo europeu de € 2,4 bilhões foi constituído para financiar as compras. A
expectativa entre vários países é que uma vacina possa estar pronta no começo
de 2021.
Viver
em quarentena nunca foi fácil https://bit.ly/2Xm2lK5
Nenhum comentário:
Postar um comentário