23 agosto 2020

Palavra de Luciana


Intensa expectativa de diálogos bilaterais
Vice-governadora de Pernambuco, a presidente nacional do PCdoB, Luciana Santos, diz que ainda não chegou a tratar com o PSB um possível apoio deles à principal candidatura do seu partido no Estado: a do deputado estadual João Paulo, em Olinda. Luciana, contudo, defende a “reedição” da Frente Popular no Recife nas eleições deste ano, com o objetivo de derrotar os candidatos alinhados com o bolsonarismo que já lançaram seus nomes. O enfrentamento ao presidente da República, aliás, é um ponto que considera prioritário, fato que leva a comunista a dar praticamente como certa uma candidatura própria em 2022, provavelmente a do governador do Maranhão, Flávio Dino.
Jornal do Commercio


JORNAL DO COMMERCIO - Em 2018, o PCdoB foi bastante afetado pela cláusula de barreira, e, neste ano, o partido deve lançar candidatos em cerca de 15 capitais. A estratégia do partido em 2020 leva em conta essas exigências de desempenho da Justiça Eleitoral?
LUCIANA SANTOS – Dois fatores [estão sendo considerados], a cláusula de barreira e, por força do fim das coligações proporcionais, o fato de que nós temos que formar chapas próprias não só nas capitais, mas em todas as cidades. Isso muda bastante a nossa conduta. A gente tem priorizado muitas vezes a disputa majoritária porque ela alavanca a chapa própria e o número da legenda. Por isso mesmo nós fizemos o Movimento 65, o Movimento dos Comuns, exatamente para ajudar a dar mais visibilidade ao partido, para tratá-lo enquanto movimento, enquanto perspectiva, para a gente falar do futuro. Portanto ser mais atrativo para um pensamento mais progressista, nacionalista, inclusivo, de defesa de direitos.Agente procurou dar uma forma melhor para o que nós somos no conteúdo. Com isso, nós montamos chapas próprias nas capitais e lançamos pré- -candidaturas a prefeito em locais como Florianópolis e Porto Alegre, e em cidades de porte médio como Santana (AP), Olinda, Campina Grande (PB), sempre com essa perspectiva, de firmar mais a identidade do PCdoB dentro desse contexto de necessidade de afirmação. Tudo isso dentro de um projeto maior, que é derrotar as forças do bolsonarismo no Brasil todo.
JC - Por isso o partido optou por, no Recife, apoiar a candidatura do deputado federal João Campos (PSB)?
LUCIANA – Na verdade nós ainda estamos construindo [essa ideia]. Nós não temos candidatura própria no Recife e estamos construindo o nosso projeto junto à Frente Popular. Nós achamos que o caminho é a gente reeditar a Frente Popular para derrotar os candidatos mais conservadores e de direita.
JC - Em entrevista recente, o governador Flávio Dino (PCdoB) se queixou da falta de união da esquerda e disse até que os partidos podem perder em todas as capitais nas eleições deste ano por conta disso. Aqui no Recife, por exemplo, o PDT mostrou que está rachado.OPT deixou a Frente Popular. Comoasenhora enxerga esse cenário?
LUCIANA – Eu penso que, desde que houve a vitória de Bolsonaro em 2018, há uma grande dispersão das nossas forças. Aliás, já houve na própria eleição. Naquela ocasião, nosso campo sequer conseguiu se unir, se compactar em torno da candidatura de [Fernando] Haddad (PT) no segundo turno. Desde lá,o grupo ficou bastante disperso. Isso foi se desenvolvendo durante todo esse período de um ano e oito meses. Tem sido assim, não há convergência na conduta tática de como se comportar diante dessa agenda de direita no Brasil, que é ultra liberal na economia, que é autoritária, que retira direitos, como foi na reforma da Previdência, como foi a luta para evitar os cortes na educação. Há uma agenda em curso, e, no nosso campo, não há unidade sobre como fazer o enfrentamento a essa agenda.
O PCdoB, por exemplo, tem a convicção de que para enfrentar essa natureza do governo federal seria necessário a gente constituir frentes amplas com setores da economia que estão desgastados com a agenda, com instituições, com a sociedade civil organizada, com personalidades e até com os atores do centro da política que marcharam com Bolsonaro e hoje estão se distanciando dele e até já romperam. Nós somos a favor de que, em todo lugar que tiver deserções no conjunto de forças que apoiaram Bolsonaro,agente deveria dialogar, buscar alianças para poder enfrentar o nosso adversário. Mas no nosso campo há muita dificuldade de se entender a necessidade dessas alianças amplas e há incompreensão de como marchar no rumo de impor mais derrotas a essa agenda, inclusive na própria eleição municipal. Isso justifica essa dispersão, associado à lei eleitoral que exige chapa própria, associado à cláusula de barreira, que na prática empurra os partidos a se dispersarem.
Há uma confluência de alguns fatores que vão determinando isso. Mas entendo que, em algum momento, isso tende a evoluir para a gente depurar mais o processo. Há também a necessidade dos partidos testarem suas lideranças para acumular forças, isso fora os partidos políticos que já têm pré-candidatos à Presidência da República para 2022, isso os leva a montarem suas estratégias de modo a formar seu campo político naquele determinado local, independentemente de que aquele caminho contribua ou não para a vitória do conjunto das nossas forças. Não é uma equação simples, mas é preciso persegui-la. O PCdoB tem convicção nisso.Oque move todos nós é a necessidade de frentes amplas para sairmos vitoriosos nas eleições de 2020 e armar uma situação mais favorável ao nosso campo de forças, do que a gente pensa pelo Brasil, o projeto que a gente acredita, é o caminho que a gente está percorrendo.
JC – Em Pernambuco, o PCdoB terá representação no pleito em cidades como OlindaeJaboatão. Como andam as articulações? O PSB vai apoiar o PCdoB em Olinda?
LUCIANA – Nós ainda sequer estabelecemos uma rodada bilateral com os partidos. Houve rodadas com o PT, mas mesmo nessas conversas houve poucas mesas para colocar em um tabuleiro planos de projeto eleitoral de cada força política, até porque até um dia desses não havia nem uma data para a eleição. Com a data da eleição marcada, essas conversas vão avançar. Nós vamos abrir a rodada de conversas com os partidos, mas já tivemos o anúncio do apoio do PT, no caso de Olinda, e estamos conversando bastante com outras legendas para reeditar uma frente que eu, quando fui prefeita, já constituí. Renildo [Calheiros] chegou a constituir com mais de 20 partidos. É uma intensa expectativa de diálogos bilaterais com lideranças na construção de uma frente em Olinda. Mas anúncio formal, até agora, foi só o do PT. Com as outras forças nós ainda estamos construindo, até porque muitos querem reciprocidade, discutir o plano geral para poder anunciar o apoio em Olinda.
JC - Quando se fala em 2022,onome de Flávio Dino sempre é lembrado como uma figura competitiva para a disputa da Presidência. Como andam as discussões internas sobre essa candidatura? Nos últimos anos o PCdoB sempre esteve ao lado do PT nas corridas presidenciais, esse fato e a figura de Lula vão interferir nessa decisão do partido?
LUCIANA – É inevitável que todas as nossas decisões passem pelas relações que nós constituímos até hoje, até porque elas são relações elevadas, pautadas pelo pensamento programático. Tudo isso entra, mas nós temos boas relações como PDT com o PSB, com o PT, com a esquerda. E nós procuramos transitar por todas essas forças, aliás, como nós sempre fizemos política movidos pelo plano das ideias, nós não temos acumulado desgastes, ranços, com o conjunto das lideranças políticas do Estado. Temos muito trânsito, muita tranquilidade de dialogar com todo mundo. O que acontece é que, independentemente da nossa vontade, o Flávio Dino,a dois anos da eleição, entra com muita força no plano nacional como nome colocado na mesa das futuras candidaturas presidenciais.
Então vai aparecendo o nome dele pela força das suas opiniões e pela sua capacidade política de responder à crise complexa política e institucional que a gente está vivendo. Acho até que o próprio Bolsonaro acabou levantando Flávio Dino quando, lá no início do governo dele, disse que, entre os “paraíbas”, ele era o pior. Isso acabou tornando Flávio Dino mais famoso no Brasil todo. E isso deu condições para que as pessoas o ouvissem mais, ele deu várias declarações e entrevistas em grandes programas nacionais, nos jornais de todo o País,e isso vai o credenciando, dando visibilidade, assim como lá atrás aconteceu com a Manuela [D’Ávila], que foi nossa pré-candidata à Presidência da República.
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