Intensa expectativa de diálogos
bilaterais
Vice-governadora
de Pernambuco, a presidente nacional do PCdoB, Luciana Santos, diz que ainda
não chegou a tratar com o PSB um possível apoio deles à principal candidatura
do seu partido no Estado: a do deputado estadual João Paulo, em Olinda. Luciana,
contudo, defende a “reedição” da Frente Popular no Recife nas eleições deste
ano, com o objetivo de derrotar os candidatos alinhados com o bolsonarismo que
já lançaram seus nomes. O enfrentamento ao presidente da República, aliás, é um
ponto que considera prioritário, fato que leva a comunista a dar praticamente
como certa uma candidatura própria em 2022, provavelmente a do governador do
Maranhão, Flávio Dino.
Jornal
do Commercio
JORNAL DO COMMERCIO - Em 2018, o PCdoB foi
bastante afetado pela cláusula de barreira, e, neste ano, o partido deve lançar
candidatos em cerca de 15 capitais. A estratégia do partido em 2020 leva em
conta essas exigências de desempenho da Justiça Eleitoral?
LUCIANA SANTOS – Dois
fatores [estão sendo considerados], a cláusula de barreira e, por força do fim
das coligações proporcionais, o fato de que nós temos que formar chapas
próprias não só nas capitais, mas em todas as cidades. Isso muda bastante a
nossa conduta. A gente tem priorizado muitas vezes a disputa majoritária porque
ela alavanca a chapa própria e o número da legenda. Por isso mesmo nós fizemos o
Movimento 65, o Movimento dos Comuns, exatamente para ajudar a dar mais
visibilidade ao partido, para tratá-lo enquanto movimento, enquanto
perspectiva, para a gente falar do futuro. Portanto ser mais atrativo para um
pensamento mais progressista, nacionalista, inclusivo, de defesa de
direitos.Agente procurou dar uma forma melhor para o que nós somos no conteúdo.
Com isso, nós montamos chapas próprias nas capitais e lançamos pré-
-candidaturas a prefeito em locais como Florianópolis e Porto Alegre, e em
cidades de porte médio como Santana (AP), Olinda, Campina Grande (PB), sempre
com essa perspectiva, de firmar mais a identidade do PCdoB dentro desse
contexto de necessidade de afirmação. Tudo isso dentro de um projeto maior,
que é derrotar as forças do bolsonarismo no Brasil todo.
JC - Por isso o partido optou por, no Recife,
apoiar a candidatura do deputado federal João Campos (PSB)?
LUCIANA – Na verdade nós ainda estamos
construindo [essa ideia]. Nós não temos candidatura própria no Recife e estamos
construindo o nosso projeto junto à Frente Popular. Nós achamos que o caminho
é a gente reeditar a Frente Popular para derrotar os candidatos mais
conservadores e de direita.
JC - Em entrevista recente, o governador
Flávio Dino (PCdoB) se queixou da falta de união da esquerda e disse até que os
partidos podem perder em todas as capitais nas eleições deste ano por conta
disso. Aqui no Recife, por exemplo, o PDT mostrou que está rachado.OPT deixou a
Frente Popular. Comoasenhora enxerga esse cenário?
LUCIANA – Eu penso que, desde que houve a
vitória de Bolsonaro em 2018, há uma grande dispersão das nossas forças. Aliás,
já houve na própria eleição. Naquela ocasião, nosso campo sequer conseguiu se
unir, se compactar em torno da candidatura de [Fernando] Haddad (PT) no segundo
turno. Desde lá,o grupo ficou bastante disperso. Isso foi se desenvolvendo
durante todo esse período de um ano e oito meses. Tem sido assim, não há
convergência na conduta tática de como se comportar diante dessa agenda de direita
no Brasil, que é ultra liberal na economia, que é autoritária, que retira
direitos, como foi na reforma da Previdência, como foi a luta para evitar os
cortes na educação. Há uma agenda em curso, e, no nosso campo, não há unidade
sobre como fazer o enfrentamento a essa agenda.
O PCdoB, por
exemplo, tem a convicção de que para enfrentar essa natureza do governo federal
seria necessário a gente constituir frentes amplas com setores da economia que
estão desgastados com a agenda, com instituições, com a sociedade civil
organizada, com personalidades e até com os atores do centro da política que
marcharam com Bolsonaro e hoje estão se distanciando dele e até já romperam. Nós
somos a favor de que, em todo lugar que tiver deserções no conjunto de forças
que apoiaram Bolsonaro,agente deveria dialogar, buscar alianças para poder
enfrentar o nosso adversário. Mas no nosso campo há muita dificuldade de se
entender a necessidade dessas alianças amplas e há incompreensão de como marchar
no rumo de impor mais derrotas a essa agenda, inclusive na própria eleição
municipal. Isso justifica essa dispersão, associado à lei eleitoral que exige
chapa própria, associado à cláusula de barreira, que na prática empurra os
partidos a se dispersarem.
Há uma
confluência de alguns fatores que vão determinando isso. Mas entendo que, em
algum momento, isso tende a evoluir para a gente depurar mais o processo. Há
também a necessidade dos partidos testarem suas lideranças para acumular
forças, isso fora os partidos políticos que já têm pré-candidatos à Presidência
da República para 2022, isso os leva a montarem suas estratégias de modo a formar
seu campo político naquele determinado local, independentemente de que aquele
caminho contribua ou não para a vitória do conjunto das nossas forças. Não é uma
equação simples, mas é preciso persegui-la. O PCdoB tem convicção nisso.Oque
move todos nós é a necessidade de frentes amplas para sairmos vitoriosos nas eleições
de 2020 e armar uma situação mais favorável ao nosso campo de forças, do que a
gente pensa pelo Brasil, o projeto que a gente acredita, é o caminho que a gente
está percorrendo.
JC – Em Pernambuco, o PCdoB terá
representação no pleito em cidades como OlindaeJaboatão. Como andam as
articulações? O PSB vai apoiar o PCdoB em Olinda?
LUCIANA – Nós ainda sequer estabelecemos uma
rodada bilateral com os partidos. Houve rodadas com o PT, mas mesmo nessas
conversas houve poucas mesas para colocar em um tabuleiro planos de projeto
eleitoral de cada força política, até porque até um dia desses não havia nem
uma data para a eleição. Com a data da eleição marcada, essas conversas vão
avançar. Nós vamos abrir a rodada de conversas com os partidos, mas já tivemos
o anúncio do apoio do PT, no caso de Olinda, e estamos conversando bastante com
outras legendas para reeditar uma frente que eu, quando fui prefeita, já
constituí. Renildo [Calheiros] chegou a constituir com mais de 20 partidos. É uma
intensa expectativa de diálogos bilaterais com lideranças na construção de uma
frente em Olinda. Mas anúncio formal, até agora, foi só o do PT. Com as outras
forças nós ainda estamos construindo, até porque muitos querem reciprocidade,
discutir o plano geral para poder anunciar o apoio em Olinda.
JC - Quando se fala em 2022,onome de Flávio
Dino sempre é lembrado como uma figura competitiva para a disputa da
Presidência. Como andam as discussões internas sobre essa candidatura? Nos
últimos anos o PCdoB sempre esteve ao lado do PT nas corridas presidenciais,
esse fato e a figura de Lula vão interferir nessa decisão do partido?
LUCIANA – É inevitável que todas as nossas
decisões passem pelas relações que nós constituímos até hoje, até porque elas
são relações elevadas, pautadas pelo pensamento programático. Tudo isso entra,
mas nós temos boas relações como PDT com o PSB, com o PT, com a esquerda. E nós
procuramos transitar por todas essas forças, aliás, como nós sempre fizemos
política movidos pelo plano das ideias, nós não temos acumulado desgastes,
ranços, com o conjunto das lideranças políticas do Estado. Temos muito
trânsito, muita tranquilidade de dialogar com todo mundo. O que acontece é que,
independentemente da nossa vontade, o Flávio Dino,a dois anos da eleição, entra
com muita força no plano nacional como nome colocado na mesa das futuras
candidaturas presidenciais.
Então vai
aparecendo o nome dele pela força das suas opiniões e pela sua capacidade
política de responder à crise complexa política e institucional que a gente
está vivendo. Acho até que o próprio Bolsonaro acabou levantando Flávio Dino
quando, lá no início do governo dele, disse que, entre os “paraíbas”, ele era o
pior. Isso acabou tornando Flávio Dino mais famoso no Brasil todo. E isso deu
condições para que as pessoas o ouvissem mais, ele deu várias declarações e
entrevistas em grandes programas nacionais, nos jornais de todo o País,e isso
vai o credenciando, dando visibilidade, assim como lá atrás aconteceu com a
Manuela [D’Ávila], que foi nossa pré-candidata à Presidência da República.
Eleições municipais em tempo de crise https://bit.ly/2FE2IJY
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