Remédio
para câncer de próstata defendido por Bolsonaro contra Covid-19 levanta
suspeitas
Jornal GGN
Citada pelo presidente Jair Bolsonaro como o novo medicamento
que ele incentiva contra Covid-19, a proxalutamida é um remédio para tratar
câncer de próstata, que não tem comprovação científica comprovada nem sequer
para este fim. Ainda, supostas pesquisas feitas com o remédio são questionáveis
e alvos de investigação.
Nesta segunda (19), a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância
Sanitária) autorizou a realização de um estudo clínico para verificar se o
remédio defendido por Bolsonaro é seguro ou é eficaz. Mesmo com a autorização,
ainda não há dados sobre se o medicamento seria eficaz contra a Covid-19.
As declarações de Bolsonaro foram feitas após sair do Hospital
Vila Nova Star, em São Paulo, neste final de semana. Ele disse ter lido
“estudos” do Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos que seriam efetivos
para a doença. Disse, também, que terá reuniões com o ministro da Saúde,
Marcelo Queiroga, para estimular a droga.
Assim como centenas de medicamentos, seja antivirais,
antibacterianos, antiparasitas, entre outros, a Proxalutamida também está sendo
testada para verificar se tem algum efeito contra os sintomas da Covid-19. Mas,
ao contrário dos demais remédios, que apresentaram eficácia contra a doença
pela qual foram criados (antiparasitários para combater parasitas, por
exemplo), a Proxalutamida não.
A Proxalutamida é um anti-androgênico, que impede a células do
corpo reconhecerem os hormônios andrógenos, e está sendo ainda estudado para
tratar câncer de próstata e de mama. Mas nem sequer para este fim o medicamento
apresentou eficácia nos estudos.
Ainda assim, aceitando a recomendação do mandatário, que
disseminou a possibilidade do medicamento para combater a doença da pandemia
atual, o ministro da Saúde, disse que o remédio será estudado e testado.
“A proxalutamida está no início dessas pesquisas e precisa
estudar mais para verificar primeiro a sua segurança, segundo a sua eficácia,
e, a partir daí, se pode ser considerada para o tratamento [da Covid-19]”,
disse Queiroga a jornalistas, na manhã desta segunda (19).
Investigação
Ainda em abril deste ano, a imprensa divulgou que os estudos feitos com
esse remédio, apresentado somente em uma coletiva no dia 11 de março e
conduzido por um dos médicos defensores do tratamento precoce, Alberto Nicolau,
têm suspeitas de falhas ou fraudes.
Isso porque, dos 590 voluntários com Covid-19 leve ou moderada
que teriam tomado a substância, metade deles recebeu o remédio e a outra um
placedo, e ocorreram 12 mortes entre os que foram medicados com o remédio do
câncer e 141 entre os que tomaram placebo.
Na prática, foi uma taxa de 47,5% de mortes em pacientes com
Covid-19 leve e moderada, muito alta. Mas tais resultados foram comemorados
pelos defensores, alegando a comparação entre o placebo e o remédio.
Ao lado de Nicolau, apresentou o suposto estudo o
endocrinologista Flávio Cadegiani, que é também o idealizador do polêmico aplicativo TrateCov,
criado pelo Ministério da Saúde e que recomendou cloroquina a grávidas e
crianças.
Além disso, chamou a atenção o fato de que os resultados teriam
sido coletados entre os dias 2 de fevereiro e 22 de março, um prazo considerado
“extraordinariamente rápido”. Isso porque o tempo para encontrar os voluntários
geralmente é alto, contando com entrevistas, critérios e monitoramento a serem
adotados, com rígidos relatórios.
Todas essas suspeitas
fizeram com que os supostos testes fossem alvo de uma investigação pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa
(Conep) que será enviado ao Ministério Público, à Anvisa e ao Conselho Federal
de Medicina (CFM) para abertura de inquérito.
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