Helena Chagas, no Jornal GGN
É grande,
nesta manhã, a torcida do establishment e das consultorias do mercado para que
o agora cassado Eduardo Cunha não exploda o quarteirão e não perturbe a
aprovação das reformas. Mas o futuro a Cunha pertence. Ninguém sabe bem o
que vai acontecer. Brasília amanheceu num misto de alívio e apreensão,
dependendo do endereço.
O anúncio de
Cunha, nos primeiros minutos da madrugada, de que contará toda a história do
impeachment num livro que começa a escrever agora assustou alguns, mas foi
interpretado como uma última ameaça, tentativa final de obter alguma ajuda. Se
tivesse intenção de chutar o pau da barraca de imediato, analisam alguns, teria
acenado com a delação premiada.
O livro, que
demora algum tempo para ser escrito e pode tomar qualquer rumo – até o de
não ser escrito -, é uma forma de ameaçar os companheiros sem se jogar já
irreversivelmente nos braços dos investigadores da Lava Jato nas desgastantes
negociações de uma delação. E não o impede, mais adiante, de partir para ela.
O que quer
Eduardo Cunha a essa altura? Não quer ser mandado logo para Cuririba de Sérgio
Moro. Esse caminho parece inevitável com a perda do foro privilegiado
decorrente da cassação, mas do ponto de vista jurídico não é inexorável. Há
casos em que, por conexão com outros réus de foro privilegiado, o acusado
continuou a ser julgado no STF – José Dirceu no Mensalão, por exemplo.
Os advogados
de Cunha trabalham ainda com a possibilidade de pelo menos uma das ações ir
para no TRF2, que abrange o Rio, por conta da ex-deputado Solange Amaral,
também citada, que hoje é prefeita.
Todas essas
possibilidades de escapar de Curitiba são remotas, mas enquanto não esgotá-las
Cunha não vai explodir o quarteirão. Mais remotas ainda são as chances de
Michel Temer ajudá-lo em conversas com figuras importantes do Judiciário. Mas,
nas esperanças de Cunha, há sempre algum interlocutor ou amigo comum que possa
fazer isso a pedido do presidente.
Com ou sem
ajuda, porém, quem conhece o STF – onde a posse da ministra Carmen Lúcia se
transformou ontem num ato contra a corrupção – aposta que as tentativas de
Cunha vão morrer na praia e que ele acabará, sim, nas mãos de Moro. Quem sabe
até vendo o sol nascer quadrado.
A questão
agora, portanto, parece ser apenas de tempo. A rapidez de Cunha para explodir o
quarteirão – e com ele muita gente do PMDB de Michel Temer – vai depender da
velocidade com que o STF o despachar para Moro.
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