Cresce o número de
estratégias modernas, dependentes do físico
Tostão, na Folha de S. Paulo
A Primeira Liga já
morreu e nunca deveria ter existido. Ela foi criada para atrapalhar o
calendário, aumentar ainda mais o enorme número de jogos durante o ano, para
poucos faturarem e para iludir os que, como eu, acreditavam que ela seria o
embrião de uma forte liga nacional, de oposição à CBF.
Assim como acontece em todas as áreas, existe, no futebol, uma
prática de delimitar o conhecimento por épocas, com datas de início e de fim,
como se conceitos e estratégias diferentes não pudessem existir juntos. A
rígida divisão atual é a de rotular os treinadores e a maneira de jogar em
modernas ou obsoletas. Pior, quem ganha é chamado de moderno, e quem perde, de
obsoleto.
Estratégias modernas não significam, obrigatoriamente, que sejam
eficientes. Há pontos negativos, que podem ser aproveitados pelos adversários.
Diminuir os espaços entre os setores e entre o jogador mais recuado e o mais
adiantado é uma busca dos treinadores modernos. É o futebol compacto. Isso
facilita a aproximação e a troca de passes e dificulta que o outro time faça o
mesmo.
Porém, se os zagueiros se adiantarem demais, aumentam os espaços
nas costas. O goleiro tem de saber jogar bem fora do gol, outra necessidade
moderna. Muitos não sabem. Se os zagueiros marcarem atrás, longe dos armadores,
sobram muitos espaços entre eles, para o adversário jogar. Se os zagueiros e os
armadores recuarem muito, aumentam os espaços para o adversário ficar com a
bola, trocar passes e pressionar. Não há nenhuma solução ideal. O resultado vai
depender de inúmeros fatores.
Outras estratégias muito usadas hoje são as de trocar passes desde
a saída de bola do goleiro e alternar a marcação por pressão com a mais
recuada. Os adversários do Barcelona, mesmo os pequenos, descobriram que, em
vez de recuar e bloquear os espaços próximos à área, é melhor pressionar na
saída de bola. Com isso, o Barcelona tem perdido muitas bolas em sua
intermediária e sofrido mais gols.
Muitas equipes fracassaram com o mesmo sistema tático que faz
sucesso no Chelsea. O time, quando perde a bola e não consegue pressionar,
volta e marca com nove jogadores à frente da área, para contra-atacar, com
velocidade e organização. O pequeno Leicester, campeão inglês da temporada
passada, usa hoje o mesmo sistema tático do título, igual ao do Chelsea, e luta
para não ser rebaixado.
Cada dia mais aumenta a intensidade do jogo, a capacidade de
atacar e de defender com muitos jogadores, sem descanso, durante a partida. É
uma das virtudes do Campeonato Inglês. Nem sempre funciona. Às vezes, confundem
intensidade com correria desorganizada, com afobação e pressa para chegar ao
gol.
Para onde caminha o futebol? Não sei. Há muitas variáveis. Os
avanços técnicos são cada vez mais dependentes do preparo físico, dos
superatletas. Sou otimista porque sempre haverá craques, transgressores,
inventivos, lúcidos para tomar decisões corretas e capazes de, em uma fração de
segundos, mapear e calcular todos os movimentos e a velocidade dos
companheiros, dos adversários e da bola, como se tivessem megacomputadores no
corpo.
Charles Chaplin, no filme "Tempos Modernos", disse:
"Não sois máquinas, homens é que sois". Algum modernista ou modernoso
diria: "Não sois homens, máquinas é que sois"
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