Com a coragem que
só a convicção nos dá
Nilson Vellazquez,
no blog Verbalize
Eis que entre os dias 30
de janeiro e 01 de fevereiro me deparo com uma enxurrada de comentários no
Facebook acerca das decisões dos partidos de esquerda em relação à eleição das
presidências das casas do legislativo brasileiro.
Vejo comentários até de pessoas
bem intencionadas, amigos, conhecidos que a vida trouxe e que são,
verdadeiramente, interessados em resistir ao golpe que o Brasil sofreu. Pessoas
que acreditam que um novo modelo de sociedade precisa ser gestado. Não sei se o
socialismo é o que acreditam, ou se um capitalismo mais humanizado, uma
social-democracia basta.
O fato é que são pessoas
que conheci nos tempos de universidade, ou de militância do movimento
estudantil. Alguns, os que não se envolvem diretamente com a luta
político-partidária, influenciados diretamente pela corrente de opinião petista
na sociedade - é, o PT é uma corrente de opinião, assim como os comunistas -
outros, petistas propriamente ditos, comemoram a decisão de seu partido de na
eleição da câmara adotar a tática da demarcação de posição. Tudo bem, é a luta.
O que, nesse episódio,
não dá mesmo para aceitar é o questionamento de setores de esquerda às posições
do PCdoB neste caso.
O PCdoB, como é de
conhecimento de todos, esteve na linha de frente da defesa dos governos
populares hegemonizados pelo PT. Esteve porque tinha convicção de que, estava
diante de nós, com todas as contradições possíveis, o governo mais avançado que
o povo brasileiro poderia ter naquela quadra da história, e de que era preciso
fazer avançá-lo, levá-lo mais à esquerda, a superar a encruzilhada histórica
por que passava o país e fazê-lo avançar para um novo ciclo
civilizacional.
Nesse ínterim, os
comunistas sempre tentaram - mesmo com pouca força - influenciar a força
dirigente do país a ter convicção de que era preciso realizar reformas - no
marco do capitalismo - que pudessem dar um tom maior de civilidade e progresso
ao país. Reformas como a reforma dos meios de comunicação e reforma política
sempre estiveram na pauta dos comunistas, desde os períodos de ascensão das
forças populares, em que era possível avançar um pouco mais sobre as
consciências tendo em vista um projeto emancipador da classe trabalhadora,
sobre o qual a força dirigente, infelizmente, não tinha convicção.
A partir de 2015, quando
variados setores da esquerda brasileira negavam a possibilidade de golpe
parlamentar no nosso país, lá estávamos denunciando o que mais tarde se
confirmaria. Tudo isso fizemos sem esperar os louros dos vitoriosos, mas
fizemos com a calma e resiliência dos que têm convicção naquilo que
acreditam.
O caminho do PCdoB é
longo e pretende ser duradouro; acreditamos num futuro melhor para a humanidade
e para o Brasil: um futuro socialista. Dessa forma, para atingir tal objetivo,
sobre o qual temos convicção, entendemos a necessidade básica de não nos isolarmos
e de fazermos - nessa quadra tão adversa - do parlamento, um ambiente um pouco
menos hostil para resistir.
Como afirma a nota da
comissão política, "o golpe expurgou a esquerda do governo federal, do
Poder Executivo, mas não pode expulsá-la do Poder Legislativo". Não pode,
porque lá estarão os comunistas: fazendo parte da paisagem, mas, sobretudo,
influenciando a paisagem e sendo foco de resistência das forças progressistas
do país. O PCdoB não se isolará no jogo político-institucional, pois tem convicção
de que os interesses dos verdadeiros arquitetos do golpe é ver a legenda dos
comunistas ser dizimada e fora desse jogo. Não nos curvaremos à vontade da
classe dominante, seremos a resistência.
Nesse momento de
confusão a que o golpe submeteu o país, mais do que palavras que marquem suas
posições, precisamos enfrentar as medidas práticas que tentam entregar o país
através de decretos MP's e PEC's; precisamos estar preparados em todos os
terrenos, e precisamos ter convicção de que, nesse período de defensiva tática
e estratégica, resistir é estar em todos os fronts, com a coragem que só a
convicção nos dá, pois como diria Dimitrov:
"Para ser um
revolucionário, não basta possuir temperamento de revolucionário: é mister
saber também manejar a arma da teoria revolucionária. Não basta conhecer a
teoria; é preciso forjar para si mesmo um caráter sólido, com uma
inflexibilidade de bolchevique. Não basta saber o que fazer: é preciso ter a
coragem de levá-lo a cabo. Preciso estar sempre pronto para fazer, a qualquer
preço, tudo o que possa realmente servir à classe operária."
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