Ignorância e
solidariedade postas à prova
Thiago Modenesi,
no portal Vermelho
Após quase um mês de quarentena (pelo menos para mim, que comecei no dia
13 de março) o Brasil não para de me surpreender, para o bem e para o mal. Pela
primeira vez desde a sua posse, Bolsonaro sente com força estremecer sua
liderança e – talvez o mais significativo – seu modus operandi principal, o uso
das redes sociais como um difusor de mentiras, ódio e meias-verdades.
Bolsonaro está praticamente isolado, quando se trata dos políticos, mas
já não é assim quando se trata de parcela ainda expressiva da população, embora
seja de se levar em consideração que, em cerca de 1 mês de quarentena, quase
40% já defendam sua renúncia.
Nesse momento que vivemos afloram
coisas interessantes e contraditórias: de um lado uma potente e sensível rede
de solidariedade entre nós, muitos se oferecendo para ajudar os mais idosos nas
compras, pessoas fazendo vaquinhas virtuais para se apoiarem, mensagens,
atitudes e mudanças de hábitos que rompem com o individualismo tão propalado
nessa versão 4.0 de capitalismo que ora vivemos.
Por outro, o capitalismo é posto à
prova, acaba por ter que negar seu discurso na prática em momentos de crise,
imagina numa crise como a do Covid-19? Ver Donald Trump e outros com atitudes
estatizantes, com forte presença do Estado apertando setores do mercado para
que esses consigam ir de encontro ao lucro e egoísmo desenfreado, tudo isso não
tem preço.
O Estado fraco é uma falácia, cantada
aos 4 ventos por capitalistas, esses toparam lá atrás, nos anos pós-segunda
guerra, até fazer uma flexão e construir um Estado de Bem-Estar Social para
contrapor todos os avanços do Socialismo na União Soviética e Europa.
Com a queda do Muro de Berlim tudo
isso ruiu junto com ele, capitalistas partiram pra uma agenda neoliberal,
destruíram Estados nacionais, em particular nos países em desenvolvimento e
subdesenvolvidos e impetraram o discurso de que tudo pode o mercado, o Estado
não.
Após o forte golpe que acontece nas
finanças mundiais com a crise dos sub-primes em 2008/2009 o capitalismo
anti-estado ainda se arrastava para fora do poço que cavou para si próprio… aí
vem uma pandemia.
O mundo que brotará após o fim da
pandemia de Covid-19 não será o mesmo, nem serão os mesmos os paradigmas
anunciados como verdade pelas redes sociais, porta-vozes modernos do
capitalismo internacional que, infelizmente, parecem ter aprendido muito com os
mandamentos de Goebbels e partido para a difusão de mentiras e ódio como
instrumento de propaganda e convencimento.
Semeemos esclarecimento, colaboremos
nas redes de solidariedade – essa inimiga do capitalismo – acreditemos que é
possível derrotar a pandemia, mas não só. É também possível criar as condições
para um mundo melhor, mais humano e com menos desigualdades: apesar de tudo o
amanhã será diferente.
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