Há relações entre o
spray da barreira, a Fifa e a Lava Jato
Regras e a entidade que comanda o futebol mundial
não combinam
Juca Kfouri, na Folha de S. Paulo
Que relação pode haver entre o spray para marcar a distância da
barreira no futebol, o Fifagate,
a Lava Jato e o procurador-geral da Suíça, Michel Lauber?
Nenhuma,
certo?
Errado!
Porque a relação existe, cada vez está mais óbvia e pode custar o cargo de
Lauber, a primeira autoridade suíça a ser alvo de processo de impeachment desde
1848, ano da fundação da chamada Suíça moderna.
Lauber
tem o péssimo hábito de se reunir com pessoas sob investigação, ou interessadas
em investigações, às portas fechadas, sem comunicar seus superiores e fora de
agenda.
Assim
agiu com o presidente da Fifa, Gianni Infantino, pelo menos em três
oportunidades, em meio ao inquérito que apura a grossa corrupção na
transnacional do futebol, com tantos reflexos por aqui, que o digam Ricardo Teixeira, José Maria Marin e
Marco Polo Del Nero, já que João Havelange e José Hawilla não podem mais falar.
Lauber liderou, sob o mesmo método, o processo de cooperação
internacional com o Brasil em relação à Lava Jato.
E
que raios tem a ver isso tudo com o spray usado para marcar a distância da
barreira no futebol?
Mais,
muito mais que a sua vã filosofia, rara leitora, ou que a sua, raro leitor,
podem imaginar.
Porque
já há tempos corre ação na Fifa da empresa brasileira Spuni que inventou o
spray e não foi remunerada pela utilização como seria de lei.
O
repórter Jamil Chade, no portal UOL, tem revelado detalhes da ação.
As
reportagens deixam claro que a Spuni, com sua invenção em 2000, patenteada em
44 países, tem razão.
A
Fifa usa o spray, de outro fabricante, certamente pirata por não ter
autorização para utilizar produto devidamente patenteado, e nem sequer deu
satisfação quando inicialmente notificada sobre o abuso.
Terá o tema feito parte das conversas secretas de Infantino com Lauber?
Terá o tema feito parte das conversas secretas de Infantino com Lauber?
Do
alto da arrogância da entidade, tudo é possível.
Heine Allemagne Vilarinho Dias, o inventor mineiro da espuma e
dono da Spuni, voltou à carga no começo de junho, por intermédio dos advogados
Valeska Teixeira Zanin Martins e Cristiano Zanin Martins, por coincidência os
mesmos que defendem o ex-presidente Lula na desmoralizada, pelo Intercept, Lava
Jato.
Com
novas evidências da má-fé fifal, que simplesmente suprimiu as referências ao
spray no ano retrasado, apesar de constarem nas regras desde 2016, e embora, no
documento de 2020 da International Board (Ifab), apareça foto de um árbitro com
o spray.
Em
defesa, a Fifa alega ser a Ifab órgão independente e que jamais foi feita
qualquer referência ao spray nos documentos em inglês: “A respeito das “Regras
do Jogo” expedidas pelo Ifab, a Fifa pode informar que, como é fato público, o
spray de barreira jamais foi citado nas versões oficiais do documento na língua
inglesa, que é a versão que deverá prevalecer em caso de qualquer dúvida”,
consta de documento obtido pela coluna.
Argumento
cabalmente desmontado pelo casal de advogados com a apresentação, no último dia
2 de julho, de referência ao spray nas Regras do Jogo para 2016/2017, em
inglês.
Deixar
a Fifa nua tem sido comum desde a exposição
do Fifagate.
Demonstrar as ilegalidades da Lava Jato, idem.
Mas
impeachment de procurador-geral é novidade na Suíça.
Como
novos bastidores da Fifa, e de como age sua “comissão de ética”, em breve,
virão à luz.
Regras
e Fifa não combinam.
Desafios da realidade concreta https://bit.ly/3fd2YMs
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