Lutar para sepultar o teto dos gastos públicos
A crise sanitária instalada pelo
novo coronavírus transformou o teto dos gastos numa mera fantasia.
Adilson Araújo,
portal Vermelho
O dilema que hoje desafia a economia brasileira tem um nome.
Chama-se teto dos gastos públicos. Ou seja, o novo regime fiscal imposto pelo
golpe de 2016 por meio da Emenda Constitucional 95, que congelou gastos e
investimentos do governo por duas décadas.
A exigência, que restringe
seriamente a ação do Estado em nome do equilíbrio entre receitas e despesas,
foi duramente criticada à época por economistas, sindicalistas e lideranças
sociais e políticos ligadas ao povo brasileiro.
Diziam os críticos que o teto
era um contrassenso econômico e que iria agravar a crise ao restringir os
investimentos estatais e subtrair verbas da saúde, educação, ciência e
pesquisas, habitação, infraestrutura, Previdência e outras áreas.
Batizada de PEC da Morte a EC 95 foi aprovada no final
de 2016.
O balanço dos últimos anos
corrobora a opinião dos que condenaram o congelamento. O novo regime fiscal não
equilibrou as contas públicas e, ao contrário do que foi prometido, se revelou
um grande obstáculo à retomada do crescimento econômico ao sacrificar os
investimentos públicos.
Contribuiu para consolidar um
quadro de estagnação da produção, acompanhado do desemprego em massa e sensível
queda de arrecadação de impostos.
A crise sanitária instalada pelo novo coronavírus transformou o
teto dos gastos numa mera fantasia.
Embora a contragosto, o governo
teve de deixar de lado o dogma neoliberal de Estado mínimo e não intervenção no
mercado para socorrer empresas e trabalhadoras e evitar que a crise mergulhasse
o país num caos social incontrolável.
Em consequência, no primeiro
semestre de 2020 o déficit primário da União (receitas maiores do que despesas,
sem contar juros da dívida) somou R$ 402,703 bilhões e foi, de longe, o maior
da história.
O rombo deve alcançar um valor próximo a R$ 800 bilhões até o
final do ano, valor que se refere apenas ao orçamento primário, que exclui
juros. Soma-se a ele o déficit nominal, que contabiliza o pagamento da dívida
pública, ou seja, o sagrado e imexível lucro
de banqueiros e rentistas. Este deve subir a 17,3% do PIB neste ano.
A proporção da dívida pública
bruta em relação ao PIB disparou e avança para 100%. Numa conjuntura de crise
internacional e tendo em vista a performance de muitos outros países isto não
devia ser motivo para pânico.
Mas é um sinal inequívoco de que
o teto dos gastos está moribundo. As divergências sobre o tema invadem o
próprio Palácio do Planalto e contornam a estratégia de Bolsonaro para a
reeleição.
Embora moribundo, o mostrengo continua presente e com muita
força na retórica de Paulo Guedes e sua equipe econômica, bem como na poderosa
voz do mercado, que ecoa os interesses do sistema financeiro.
É o pretexto maior e mais usado
para as investidas contra o povo, a redução de direitos, o esvaziamento de
programas sociais, o desmantelamento dos serviços sociais, as privatizações. É
a âncora do projeto econômico do golpe de 2016.
Por tudo isto é preciso dar um
adeus definitivo e sepultar o desmoralizado e perverso teto dos gastos legado
pelo governo golpista de Michel Temer.
Abordagem dos desafios do Brasil
há que se fazer com base teórica sólida https://bit.ly/3b37OeG
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