29 abril 2022

Ambiente agredido

JBS elevou emissões de gases em 51% em 5 anos, diz estudo; empresa contesta dados

Cínthia Leone, UOL

 

Uma pesquisa afirma que a multinacional JBS, maior empresa de carnes do mundo com sede no Brasil, aumentou suas emissões de gases de efeito estufa (GEE) em 51% em cinco anos. A companhia contesta os dados e afirma que o estudo usa "metodologia equivocada e dados grosseiramente extrapolados".

Segundo o levantamento, a empresa jogou na atmosfera 280 milhões de toneladas (mt) de GEE em 2016, passando para cerca de 421,6 mt em 2021. Com isso, a pegada climática da JBS seria superior à taxa anual de emissões da Itália ou da Espanha e muito próxima às da França (443 mt) e do Reino Unido (453 mt).

O estudo foi realizado por uma coalizão de ONGs - Institute for Agriculture and Trade Policy (IATP), Feedback e Mighty Earth - em parceria com o site investigativo DeSmog. Segundo a coalizão, os achados da análise desmentem a estratégia climática anunciada pela companhia, denominada "Net Zero até 2040".

A JBS afirma que os resultados levam em conta "números mais recentes de capacidade de processamento por dia", dado que "não reflete os números reais processados e não se destina a ser usado dessa maneira".

A empresa também diz que "já estão em andamento" as duas recomendações principais do relatório: divulgar emissões de acordo com os padrões internacionais e permitir a verificação independente das metas de Net Zero.

Com base nos resultados do estudo, Shefali Sharma, diretora europeia do IATP, afirma que "é desesperador pensar que a JBS possa continuar a fazer promessas climáticas aos investidores, mesmo quando a empresa aumenta maciçamente suas emissões".

Sharma defende a criação de sistemas públicos e independentes para monitorar as emissões de grandes empresas poluidoras. "Nossas estimativas de emissões atualizadas mostram claramente os danos que estão sendo causados por anúncios vazios, de planos net-zero", completa.

Com faturamento anual recorde de 76 bilhões de dólares, a JBS prometeu no ano passado alcançar emissões líquidas zero até 2040. Mas o plano apresentado foi criticado por omitir as chamadas emissões do 'Escopo 3'.

Este segmento engloba a poluição gerada por toda a cadeia de fornecimento: o metano emitido pelo gado, as emissões do desmatamento, incêndios florestais e mudança de uso da terra, produção de ração animal e uso de agroquímicos, por exemplo. Segundo estimativas, as emissões do Escopo 3 representam 97% da contribuição da JBS para a mudança climática.

Hazel Healy, editora britânica do DeSmog, disse que a JBS está usando as mesmas táticas de greenwashing empregadas pelas grandes empresas de petróleo e gás há décadas.

"Ela se apresenta como uma empresa com genuína ambição climática, mas não revela suas emissões totais para que elas possam ser comparadas com as comunicações públicas da empresa. E como esta pesquisa mostra, as emissões da JBS estão aumentando substancialmente, não diminuindo", diz Healy.

A imprensa internacional repercutiu a análise, incluindo Financial Times, Bloomberg, Politico, The Telegraph e o dinamarquês Duurzaam Financieel.

Confira, na íntegra, a resposta da JBS

Consideramos bem-vindas a análise e a oportunidade de discutir como enfrentamos de maneira construtiva e quantificamos os desafios que nosso setor enfrenta. Alcançar nosso compromisso de ser Net Zero até 2040 é nossa prioridade número um e estamos trabalhando em conjunto com lideranças reconhecidas globalmente nessa área, incluindo a SBTi, para avaliar, alinhar e auditar metas de redução de emissões baseadas na ciência, considerando os escopos 1, 2 e 3, como é nosso objetivo desde o início.

Temos sido transparentes sobre os prazos necessários para fazer isso, enquanto lideramos a transição de nosso setor, e forneceremos atualizações à medida que concluirmos cada etapa de nossa jornada. Alcançar a verdadeira mudança requer reconhecer os desafios que nosso setor enfrenta e garantir uma abordagem rigorosa baseada na ciência para reduzir nossas emissões de gases do efeito estufa.

Em vez disso, o relatório do IATP usa uma metodologia equivocada e dados grosseiramente extrapolados para fazer afirmações enganosas, incluindo o uso de nossa capacidade de processamento para estimar nossas emissões. Embora não concordemos com seus métodos e não tenhamos tido a oportunidade de contribuir ou de responder aos pontos trazidos pelo relatório antes da publicação, entramos em contato com a ONG para revisar suas conclusões em busca de nosso objetivo comum. Também contatamos consultores especializados independentes nessa área para garantir uma abordagem transparente e baseada na ciência.

No que diz respeito às duas recomendações principais dos relatórios - o trabalho de divulgação das emissões de acordo com os padrões internacionais de melhores práticas e a verificação independente de terceiros com relação à nossa meta de Net Zero -, ambas já estão em andamento.

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