Forças Armadas acumulam perdas
com Bolsonaro
Incógnita é até onde irá
apego ao ideário da ditadura e ao poder de impô-lo em caso de derrota eleitoral
do presidente
Janio de Freitas, Folha de S. Paulo
Nenhuma
instituição mostra maiores perdas, na confrontação dos conceitos públicos mais
aparentes, do que as Forças Armadas atingidas pelas características
do mandato de Bolsonaro.
O
Judiciário, com seus momentos de alta e de baixa, a Câmara nos níveis mais
deploráveis, o Senado, os partidos e a política em geral reproduzem, neste
período singular, as suas imagens anteriores. Graças ao SUS, o serviço público
viveu a experiência de aplaudido, com exceção das polícias.
As
Forças Armadas, e o Exército em particular, têm situação sem precedente há mais
de um século, desde os tempos de Floriano e de Hermes da Fonseca.
É
eloquente, cheio de significados, o rompimento da cautela nas referências aos
militares, criada pelas represálias de violência vigentes por muito tempo.
Cartunistas,
humoristas, boa parte dos e sobretudo das comentaristas profissionais, cartas
de leitores e, claro, as redes de internet praticam, uns, a franqueza de
crítica, outros a libertação do sarcasmo e do deboche.
Militares
mais antigos, crias e guardiães da ditadura como realidade e como memória, viram na
candidatura de Bolsonaro, com as circunstâncias produzidas pelos agentes da Lava Jato, a oportunidade ideal: impor as visões da
ditadura sem a ditadura, tornada difícil e talvez insustentável.
Eram
e são as visões para a exploração da Amazônia, para os
costumes, para as relações internacionais, os indígenas, várias das minorias,
para a cultura. A tolerância com a violência organizada, policial ou não, o
condicionamento dos tribunais e o mais que temos visto em prática ou
tentativas.
O
governo Bolsonaro corresponde à visão geral das Forças Armadas, no mínimo por
decorrência das dimensões majoritárias do Exército.
É
natural, portanto, a identificação também em outras características, como
demonstrações patéticas de incompetência, quando não de ignorância primária, a
normalidade de abusos de poder e, além de várias outras, agora os escândalos.
Estes, com um toque original: o cômico. Ou ridículo.
Os
cidadãos estamos a financiar próteses penianas e viagra para as Forças Armadas,
ou um tanto desarmadas.
Nas
palavras do próprio Bolsonaro: "Foram trinta e poucos mil comprimidos para
o Exército, 10 mil para a Marinha e eu não peguei da Aeronáutica, mas deve
perfazer o valor de 50 mil comprimidos. Com todo respeito, isso é nada".
Já
se soubera da fortuna gasta com outras comidas, as preciosidades de mesa, não
esclarecido se consumidas nas casernas ou também servidas em residências.
Bolsonaro
não faltou com a mentira. Os 10 mil comprimidos que citou como
"valor" para a Marinha são, no processo de compra, 28 mil. Trambiques
em curso, pois. Um, já desvendado, no verdadeiro significado de valor: o
acréscimo de 143% no preço real.
A
má fama da Intendência militar, até que o golpe de 64 silenciasse notícias dos
seus feitos, volta com lentidão por deficiências do jornalismo praticado. Ainda
assim, não deixa dúvida da inclusão militar na bagagem de corrupção do governo Bolsonaro.
Contrafeitos
no Estado Democrático de Direito, os herdeiros da mentalidade expressada pela
ditadura tiveram, de fato, a oportunidade esperada do papel da Lava Jato e da
eleição de Bolsonaro.
O
resultado está à vista. Está no inovado conceito público do ideário das
casernas para o país. E está no conceito internacional que a ONU concentra em
sua cobrança, ao governo, de explicação sobre as ameaças à democracia e aos
direitos humanos no Brasil.
A
incógnita é até onde irá o apego ao ideário da ditadura e ao poder de impô-lo,
em caso de derrota eleitoral de Bolsonaro —e dos representados por ele.
.
Em poucas palavras e em cima
dos fatos https://bit.ly/3n47CDe
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