Depois de ver o Liverpool, o
City e Flamengo x Palmeiras, passei a gostar mais de futebol
Cada país, cada técnico, cada
time e cada jogador tem suas particularidades
Tostão, Folha de S. Paulo
No
meio de semana, passei a gostar um pouco mais de futebol, ao ver três ótimas
partidas: a goleada do Liverpool por 4 a 0 sobre o rival Manchester United, a vitória por 3 a 0 do Manchester City sobre
o Brighton e o empate em 0 a 0 entre Flamengo e Palmeiras.
Nesse
empate, o Flamengo teve mais a bola, mas cada equipe teve três
chances claras de gol, como informou, durante a transmissão, o narrador Gustavo
Villani, da TV Globo. Mais importante que a posse de bola e o número de
finalizações, mesmo no alvo, é o número de chances de gol, embora não seja uma
informação exata, pois pode haver opiniões diferentes sobre o que é uma chance
clara de gol. Uma equipe pode finalizar demais e não criar nenhuma oportunidade
de gol, e também o contrário, ter inúmeras chances, sem finalizar.
Flamengo e Palmeiras jogaram melhor no primeiro do que no segundo
tempo, por causa do cansaço decorrente da maneira de jogar, pressionando, e da
falta de rotina de adotar essa marcação. O ser humano é um animal racional, que
pensa e que vive de hábitos. É necessário treiná-los e repeti-los.
No
mesmo dia, o Liverpool deu um baile no Manchester United. Thiago Alcântara deu,
novamente, uma aula de passes precisos, bonitos e cheios de efeitos especiais.
A fantasia pode caminhar junto com a eficiência. Não tem de ser uma coisa ou
outra. Thiago foi aplaudido de pé, quando foi substituído, minutos antes de
terminar o jogo, e ainda recebeu um fortíssimo abraço do técnico Klopp.
Mas
o melhor do jogo, como já escreveu o mestre Juca Kfouri, com técnica
jornalística e com ternura, foi ver toda a torcida do Liverpool cantar "You’ll Never Walk
Alone", aos sete minutos de jogo, em solidariedade a Cristiano
Ronaldo (CR7), por causa da perda, no parto, de um dos filhos gêmeos. Em
Anfield, a emoção e a razão caminham juntos.
No
dia seguinte, o Manchester City deu um show de futebol coletivo, com passes de
pé em pé, desde a defesa, na vitória sobre o Brighton, por 3 a 0, e voltou à
liderança do Campeonato Inglês, um ponto à frente do Liverpool. Outro
meio-campista, De Bruyne, mais completo que Thiago Alcântara, foi
novamente o destaque. Ele une o melhor de um meio-campista com o melhor de um
meia-atacante.
O
futebol tem evoluído. Há mais ou menos 15 anos, o Barcelona, comandado por
Guardiola, revolucionou a maneira de jogar, com marcação por pressão e com
troca de passes, características que se espalharam pelo mundo. Porém, cada
país, cada técnico, cada time e cada jogador tem suas particularidades. Cada um
faz de seu jeito.
O
futebol brasileiro também tem melhorado, no individual e no coletivo, com a
ajuda de novos treinadores, brasileiros e estrangeiros, mas, na média, ainda
continua com muitas deficiências. Uma das razões da grande queda, durante
décadas, foi a supervalorização dos lances individuais, dos artilheiros e dos
dribladores e de um esquecimento do jogo coletivo e dos meio-campistas,
representantes do passe e do domínio da bola e do jogo. O passe e o drible
caminham juntos. Os heróis não são apenas os que empurram a bola para dentro do
gol. A adoração pelo individual tem a ver com a desmedida ambição da sociedade
brasileira.
Um
dos dilemas do futebol é saber, nos grandes momentos, o que é mais importante,
a técnica e os movimentos corporais ou a lucidez, a criatividade e a emoção. As
possibilidades caminham juntas, como o corpo e a alma. Um não vive sem o outro.
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